NO DIA 1º DE abril de 1964, tropas do IV Exército cercaram o Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo de Pernambuco. O então governador Miguel Arraes de Alencar era um dos principais líderes da esquerda no País. Em todo o Brasil, um golpe estava em curso. Os militares sugeriram a Arraes que ele renunciasse. Encurralado, o governador preferiu resistir. Naquela tarde, conta a História, Arraes desceu as escadarias do Palácio preso e irredento.
Miguel Arraes sendo levado do palácio do governo. Foto: Arquivo do Jornal do Commercio.
Arraes só foi solto em maio do ano seguinte, quando seguiu exilado para a Argélia, de onde
só voltaria após a Anistia, em setembro de 1979. Deixou no Brasil a filha Ana, de cujo casamento
com o escritor Maximiliano Campos daria a luz a dois filhos: o advogado Antônio e o economista
Eduardo. Mais tarde, os dois filhos de Ana Arraes se dedicariam a perpetuar o legado do avô, cada
um a sua forma. Enquanto Antônio tomou à frente do Instituto Miguel Arraes, dedicado à memória
política, Eduardo herdou a liderança sobre o PSB e o Governo de Pernambuco.
Fascinado pelo avô, Eduardo Campos ganhou ossatura política aos poucos, pelas mãos de Arraes. O ano de 1986 foi decisivo. Campos acabara de se graduar em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e havia conseguido uma vaga para fazer o mestrado nos Estados Unidos. O avô, porém, convidou o jovem de 20 anos para ajudar na dura campanha contra José Múcio Monteiro, então no PFL. Eduardo ficou, Arraes venceu e, em 1988, Campos se tornaria chefe de Gabinete no segundo governo do avô. Foi o posto que o permitiu ter contato com prefeitos e deputados, ouvir demandas e acompanhar o dia a dia da articulação política.
Eduardo acompanhando o avô no governo. Foto: Arquivo do Jornal do Commercio.
Eduardo Campos ficou no governo do avô até o final, em 1990, quando se elegeu deputado estadual, já pelo PSB. Na primeira eleição que concorreu, conquistou 22.477 votos. Foi o terceiro mais votado. Dois anos depois, Arraes entendeu que o PSB precisava disputar a Prefeitura do Recife, e lançou o neto, que amargou um distante quinto lugar. Nas urnas, foi sua única derrota. O eleito foi o adversário Jarbas Vasconcelos (PMDB), que mais na frente se converteria em aliado no projeto presidencial de Eduardo.
A estratégia política de Arraes, porém, deu certo. Em 1994, o avô conquistou o seu terceiro mandato de governador, batendo Gustavo Krause (PFL) e Cid Sampaio (PMDB). No mesmo ano, Campos foi eleito deputado federal com 133.347 votos, a segunda maior votação do Estado. Mas não ficou no Congresso. Mais uma vez nomeado por Arraes, Eduardo assumiu a Secretaria Estadual de Governo. Em 1996, ele se tornaria secretário da Fazenda, a pasta mais importante da administração estadual.
FOI COMO CHEFE DAS contas públicas do Governo de Pernambuco que Eduardo Campos passou por um dos episódios mais controversos de sua carreira política: o escândalo dos precatórios. No vermelho, a administração do Estado, através da Fazenda, decidiu levantar dinheiro através da venda de títulos públicos para pagamento de precatórios. A legislação permitia o leilão de títulos para quitar dívidas provenientes de decisões judiciais ocorridas até seis meses depois da publicação da Constituição. O esquema, que envolveu outros estados e prefeituras, superfaturava o valor dos débitos incluindo neles o cálculo da correção monetária das dívidas, que não era pago aos credores e continuava nas contas do Estado.
Em Pernambuco, a manobra foi implementada por Campos, no cargo de secretário da Fazenda, a partir de uma proposta do Banco Vetor, que operava esquema similar na cidade de São Paulo. Uma equipe da Secretaria de Finanças da prefeitura paulistana chegou a se deslocar para o Recife para trabalhar na confecção dos títulos pernambucanos. Na época, o secretário de Finanças de São Paulo era Celso Pitta, e o prefeito, Paulo Maluf.
“Coube ao Estado de Pernambuco a infeliz posição de ser o mais perfeito, exaustivo e rico exemplo de atuação do esquema de sujeiras com o dinheiro público”, afirmava o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Títulos Públicos, criada no Senado Federal, onde Campos depôs em fevereiro de 1997, quase um ano após o leilão dos precatórios pernambucanos.
A CPI descobriu que dos R$ 480 milhões em títulos emitidos pelo Governo de Pernambuco, apenas R$ 57,9 milhões correspondiam às dívidas com pagamento determinado pela Justiça. Os outros R$ 422 milhões foram calculados com base na conversão monetária dos diversos planos econômicos pelos quais o Brasil havia passado nos anos anteriores.
Durante a investigação, o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) constatou uma série de inconsistências no livro de credores da Fazenda. Em 12 precatórios, por exemplo, não foram cortados os três zeros de conversão entre Cruzados e Cruzados Novos. Um desses precatórios era o AC 87.833, para qual o Estado havia emitido títulos no valor de R$ 350 milhões. A descoberta mostrava que 73% do valor dos títulos levantados pelo Governo de Pernambuco vinham de um erro de cálculo e simplesmente não existiam.
Desde o início, o principal objetivo da emissão dos títulos era encher os cofres do Estado. Relatório do TCE mostra que sobraram R$ 376 milhões do valor que foi levantado pela Fazenda para, supostamente, pagar os precatórios. No dia 31 de dezembro, o valor foi usado para cobrir o rombo nas contas do governo. No final, ainda sobraram mais de R$ 145 milhões para serem utilizados em 1997, sendo que os precatórios que deveriam ser pagos naquele ano giravam em torno de R$ 15,4 milhões. Para quem tinha a função de tocar as parcas contas do Palácio, o esquema havia sido bastante lucrativo.
Mas não foi lucrativo só para o Governo de Pernambuco. No final de 1995, o Vetor havia procurado o Governo de Pernambuco para propor o esquema. A proposta teria sido aceita informalmente por Campos no início de 1996, quando, segundo o relatório da CPI, o banco teria mobilizado a equipe de São Paulo para confeccionar os títulos pernambucanos. Pelas regras, o Vetor só ganharia a exclusividade na negociação dos precatórios se o leilão realizado pelo Banco de Pernambuco (Bandepe) não fosse bem sucedido. O edital do leilão foi publicado no dia 12 de junho e a oferta dos títulos aconteceu no dia seguinte. No curto prazo, nenhum comprador apareceu, o que permitiu ao banco privado negociar os papeis pernambucanos. No final do processo, de acordo com o balanço da CPI, o Vetor arrecadou R$ 34,7 milhões em comissão por ter operado o esquema.
Para Eduardo Campos, o principal problema era que a legislação determinava que a confecção dos títulos deveria ser usada, unicamente, para o pagamento dos precatórios. Ao solicitar a autorização ao Banco Central e ao Senado para emitir os papéis, o então secretário da Fazenda assinou documento em que garantia “sob as penas da Lei”, que os títulos seriam usados no pagamento das dívidas.
No depoimento à CPI, Campos assumiu que o esquema tinha outros propósitos. “Quando falei, inicialmente, deixei claro que essa operação serviu para pagar os precatórios de 1996, que foram só R$ 26 milhões, e serviu para o reequilíbrio das contas do Estado, para se pagar décimo terceiro, salário atrasado, obrigação social, contrapartida de convênios que tínhamos, contratos internacionais. Serviu para isso”, confessou.
Sem a facilidade de conseguir dinheiro o bastante para tocar as ações do Estado e arrastado para o meio de uma crise política pelo próprio neto, Miguel Arraes perdeu as eleições de 1998 para o adversário figadal Jarbas Vasconcelos. Teve apenas 26,3% dos votos, contra os 64,1% conquistados pelo peemedebista já no primeiro turno. Aos 81 anos, Arraes deixou pela última vez o Palácio do Campo das Princesas, que o próprio Eduardo assumiria mais na frente. Naquela eleição, candidato novamente a deputado federal, Campos amealhou 173 mil votos e foi o mais votado. Pelo resto da vida, ele citaria a expressiva votação naquela disputa para afirmar que o povo havia lhe absolvido dos erros com os precatórios.
“FUI, EM TODOS ESSES anos, como meu pai Maximiano Campos me ensinou, servo do ideal e do sonho. Os mesmos ideais e os mesmos sonhos que agora impulsionam a caminhada iniciada hoje, com os pés no chão e os olhos no futuro.” Foi com essa frase que Eduardo Campos
encerrou seu discurso de despedida do cargo de governador do Estado de Pernambuco, em 4 de
abril de 2014, prazo limite dado pela Justiça Eleitoral para se desincompatibilizar dos mandatos a
tempo de concorrer às eleições. Mais que isso, a data marcava os 50 anos da deposição e prisão de
Arraes pelos militares e o simbolismo de o neto renunciar para disputar democraticamente a
Presidência da República marcou boa parte da cerimônia.
Eduardo Campos deixa o Governo de Pernambuco para concorrer à Presidência da República 50 anos após a deposição de Miguel Arraes pela Ditadura. Foto: Eduardo Braga/SEI
Eduardo Campos venceu as eleições para governador de Pernambuco em 2006, depois de oito anos de gestão de Jarbas Vasconcelos, num cenário que parecia improvável no início da disputa, quando o neto de Arraes amargava um índice de 3% nas pesquisas de intenção de voto. O principal nome da oposição era o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT), que tinha tudo para polarizar a disputa contra Mendonça Filho (DEM), vice de Jarbas. O PT vivia sua melhor fase em Pernambuco, com Lula no governo federal e João Paulo tendo sido reeleito prefeito do Recife dois anos antes no primeiro turno.
Eduardo, como ministro da Ciência e Tecnologia ao lado de Lula. Foto: Marcos Michael/Acervo JC Imagem.
Eduardo também era ex-ministro de Lula. Assumiu a pasta da Ciência e Tecnologia em 2004, convocado pelo ex-presidente, que tinha um carinho pessoal por ele. Os dois se conheceram quando Arraes voltou do exílio em 1979. Campos tinha então 14 anos, mas seu interesse pela política chamou atenção do líder sindical, que mais tarde diria vê-lo como um filho. “Como todos os brasileiros, estou profundamente entristecido com a trágica morte de Eduardo Campos. Um grande amigo e companheiro”, dizia a nota divulgada pelo ex-presidente no dia do acidente aéreo do Cessna.
Eduardo ficou apenas um ano e meio como ministro de Lula. Em julho de 2005, ele retomou o mandato de deputado federal junto com outros integrantes do governo, como uma manobra do presidente para reforçar a base aliada no Congresso depois que estourou o escândalo do Mensalão. Arraes, que viria a falecer semanas depois, já estava bastante debilitado, e coube a Campos assumir a liderança do PSB na defesa do petista, no momento em que a oposição flertava com o impeachment. A partir daquele ano, com a morte de Arraes, caberia a Eduardo Campos a presidência nacional do PSB.
A admiração de Lula por Eduardo fez com que o petista não entrasse de cabeça na campanha de Humberto Costa, em 2006. No mesmo ano, estouraram dois escândalos envolvendo o Ministério da Saúde: a Operação Vampiro, que prendeu uma quadrilha que fraudava medicamentos hemoderivados, e o Escândalo das Sanguessugas, que envolvia o desvio de dinheiro público destinado à compra de ambulâncias. A crise na pasta gerida por Humberto foi fartamente utilizada por Mendonça durante a campanha e esvaziou a candidatura petista. Paralelamente, Campos surgiu como opção política. Ele venceria a eleição no segundo turno com 65% dos votos.
No Palácio do Campo das Princesas, o novo governador contou com uma vantagem que
Miguel Arraes nunca teve quando geriu Pernambuco, o enorme apoio do governo federal. Natural
de Caetés, no Agreste pernambucano, Lula deu amplo suporte à gestão do afilhado político com
grandes obras. É nesse período que o governo federal iniciou vultosas ações em Pernambuco como
a Transposição do Rio São Francisco, a Transnordestina e a Refinaria Abreu e Lima; além de apoiar
a instalação de empreendimentos como o Estaleiro Atlântico Sul e, mais tarde, a fábrica da Fiat.
Eduardo na inauguração da Refinaria Abreu e Lima em 2007. Foto: Helia Scheppa/Acervo JC Imagem.
Além disso, o Governo de Pernambuco foi irrigado com um expressivo volume de repasses federais. Em 2006, o governo federal havia transferido para o Estado R$ 3,46 bilhões. Quatro anos depois, quando Campos é reeleito no primeiro turno com mais de 82% dos votos, esse montante já era de R$ 5,77 bilhões. Esse patamar se manteve nos anos seguintes até 2013, quando o PSB rompeu com o governo Dilma Rousseff.
As benesses resultaram da linha direta com o Palácio do Planalto e da capacidade que o Estado adquiriu de executar obras. Assim que assumiu, Eduardo procurou o Movimento Brasil Competitivo (MBC), criado pelo empresário Jorge Gerdau, que traçou o modelo de administração de resultados, com metas e submetas preestabelecidas e com reuniões de monitoramento periódico e setorial. Parte da estrutura administrativa e fiscal também foi importada de Minas Gerais, que na época vivia o “choque de gestão” implantado pelo ex-governador Aécio Neves (PSDB).
A síntese entre os benefícios concedidos pelo PT e a gestão da máquina pública de inspiração tucana, associada ao momento propício na economia, fez com que Pernambuco avançasse no governo Campos. Levantamento divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) mostrou que o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado avançou de R$ 55,4 bilhões em 2006 para R$ 104,3 bilhões em 2011. O mesmo estudo mostra que desde 2008, o PIB pernambucano cresce mais que o brasileiro. Ele também aponta que a taxa de desemprego na Região Metropolitana do Recife (RMR) caiu de 14,6% em 2006 para 6,4% em 2013.
Os resultados de gestão renderam uma avaliação recorde para Eduardo Campos. Em
dezembro de 2013, pesquisa do Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria
(CNI), mostrava que 58% dos pernambucanos consideravam seu governo ótimo ou bom. A maneira
de governar de Campos era aprovada por 76% dos entrevistados e 66% deles diziam ter confiança
pessoal em Eduardo. É surfando nessa maré positiva que ele construiu uma frente política quase
hegemônica no Estado, que o daria base para disputar uma eleição presidencial em 2014.
ERA MADRUGADA NA SUÍÇA, quando o então senador Jarbas Vasconcelos recebeu uma ligação do colega Pedro Simon. “Jarbas, a Marina quer falar com o Eduardo”, disse o gaúcho. Começava ali a movimentação política mais inesperada de 2013. No Brasil, era quinta-feira, 3 de outubro e, horas
antes, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia negado o registro da Rede Sustentabilidade, partido
pelo qual a ex-senadora Marina Silva esperava disputar a Presidência da República no ano seguinte.
Nas pesquisas realizadas até ali, Marina aparecia em segundo lugar na corrida pelo Planalto, atrás
apenas da própria presidente Dilma Rousseff. A decisão do TSE em não reconhecer parte das mais
de 500 mil assinaturas que a Rede havia coletado para poder existir legalmente como partido foi o
primeiro revés de uma eleição marcada por reviravoltas até o último segundo.
A filiação de Marina ocorreu no sábado, 5, no limite do prazo estipulado pela Justiça Eleitoral. Políticos de todo o País olhavam incrédulos para o auditório do Hotel Nacional, em Brasília, onde os dois firmaram uma “aliança programática”, na qual o pernambucano se curvava à parte da agenda de Marina, como a defesa da sustentabilidade. Em troca, ela lhe reconhecia o papel de candidato ao Planalto, se colocava como vice e acenava para a possibilidade de transferir para Eduardo os 19,6 milhões de votos que ela havia amealhado em 2010.
Marina Silva ao se filiar ao PSB, dois dias depois de o TSE negar registro à Rede. Foto: José Cruz/ABR
Apesar da tentativa dos dois de ressaltar as convergências, a aliança não passava sinais de coerência. Marina se colocava como a representante de uma política renovadora e plural. Campos era centralizador e, de tão pragmático, chegou a ser acusado de nepotismo por empregar parentes na estrutura do Estado. Servidora do Tribunal de Contas de Pernambuco, a esposa Renata Campos foi cedida pelo órgão para trabalhar no gabinete do governador durante o tempo em que o marido esteve à frente do Palácio, com salário pago pelo TCE. Em 2011, com aval de Lula, o governador articulou no Congresso a eleição da mãe, e então deputada, Ana Arraes, para o cargo vitalício de ministra do Tribunal de Contas da União (TCU).
Marina em coletiva de imprensa no Recife logo após filiação. Foto: Clemilson Campos/Acervo JC Imagem.
Ter Marina como vice turbinou o projeto presidencial de Eduardo Campos, que ele vinha
construindo paulatinamente nos últimos tempos. Desde 2012, o PSB havia rompido com o PT em
municípios estratégicos, como o Recife, Belo Horizonte e Fortaleza. Naquela eleição, os socialistas
ampliaram de 308 para 436 o número de cidades governadas em todo o País, ampliando a
capilaridade do partido comandado pelo governador de Pernambuco.
No ano seguinte, Campos foi aumentando aos poucos as críticas à administração de Dilma.
Dosando os ataques para se colocar como alternativa, e, ainda assim, continuar na base aliada. O
pernambucano passou a dizer que o desafio da petista era vencer 2013 para poder vencer 2014, no
momento em que o País parecia correr contra o tempo para fazer as obras da Copa do Mundo e a
economia acendia o sinal o vermelho. Os protestos de junho fizeram Eduardo ver a brecha de
oportunidade que ele precisava para se lançar candidato. Paralelamente, o socialista discutia com o
tucano Aécio Neves a formação de palanques estaduais conjuntos. As queixas em relação à Dilma
cresciam, mas faltava o estopim para que ele se desligasse do governo.
Rui Falcão, presidente nacional do PT. Foto: Clemilson Campos/Acervo JC Imagem.
O movimento final, porém, partiu do PT. Cansado de esticar a corda, o presidente nacional
da legenda, Rui Falcão, propôs a Dilma e a Lula que cobrassem uma definição do governador. Era
uma sexta-feira, 13. Dilma e Lula não seguiram a recomendação de Falcão, mas também não
esboçaram nenhum gesto para manter o apoio de Campos. Durante o final de semana, o grupo de
descontentes no PT ganhou caldo. A ala acusava Eduardo de ser fisiologista, porque criticava a
presidente, mas mantinha o aliado Fernando Bezerra Coelho como ministro da Integração Nacional
para se valer dos recursos da pasta. Irritado, o pernambucano convocou uma reunião da Executiva
do partido para a terça, 17. Foi quando o PSB decidiu entregar todos os cargos que possuía na
administração federal. A candidatura presidencial de Eduardo Campos se tornou irreversível.
Menos de 20 dias depois de romper com o governo, o pernambucano receberia o apoio de
Marina em uma aliança complicada. Campos queria aliança com o PSDB em São Paulo e Minas
Gerais, por exemplo. A ex-senadora era contra; assim como era contra apoiar o PT no Rio de
Janeiro. Ele, pragmaticamente, queria ter palanques fortes em estados decisivos. Ela, “sonhática”,
queria marcar posição. Ele tinha construído há algum tempo canais com o agronegócio, um dos
setores politicamente mais influentes do País, que preferiu Aécio com medo do ambientalismo que
ela representava. A aliança presidencial surgida em algumas horas de conversas bem-intencionadas
foi posta à prova inúmeras vezes naqueles primeiros meses e só não implodiu pela contínua
disposição de seus fiadores em seguir unidos.
Nem tudo deu certo no caminho pavimentado por Campos. O PSB queria atrair partidos médios como o PDT e o PV para a aliança, alavancando o tempo de rádio e TV, o que não aconteceu. O governador chegou a anunciar apoio à candidatura de Miro Teixeira, no Rio de Janeiro, como um gesto para atrair o PROS, mas a legenda preferiu rifar Miro. Apenas partidos pequenos acabaram aderindo à chapa de Eduardo. Os principais foram PPS e PSL; presididos pelos pernambucanos Roberto Freire e Luciano Bivar. Registrada, a candidatura juntou menos de dois minutos no guia. Aécio tinha quatro minutos e meio e Dilma, quase doze.