Um roteiro para sete dias relaxando sem “neuronha”

Passeio à Fortaleza dos Remédios pode ser no fim da tarde, para pegar o por do sol. Foto: Luiz Pessoa/NE10Passeio à Fortaleza dos Remédios pode ser no fim da tarde, para pegar o por do sol. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Fernando de Noronha tem pontos turísticos para agradar os mais diversos visitantes. Mesmo com tanto a fazer, do lado de cá do oceano há um mito que diz que uma semana na ilha já provoca a tal “neuronha”, uma vontade enorme de voltar à “vida real”. Mas, se fosse música pop, diríamos que o recalque bate no Morro Dois Irmãos e volta, pois há provas incontestáveis de que é possível, sim, montar o seu roteiro de sete dias no arquipélago e ainda sair com gostinho de quero mais. É só preparar as malas.

Veja uma sugestão de roteiro para passar sete dias na ilha – mas vale dizer que, como quase tudo em Noronha depende da natureza, não se estresse se um ou outro passeio for adiado:

Por do sol no Boldró é o mais disputado de Noronha. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Pôr-do-sol no Boldró é o mais disputado de Noronha. Foto: Luiz Pessoa/NE10

DIA 1

Os voos comerciais costumam chegar à ilha desde o início até o fim da tarde. Então, há grandes chances de você chegar a tempo de ver o famoso pôr-do-sol de Noronha. O Forte do Boldró é um dos lugares preferidos e mais bonitos.

DIA 2

O ilhatour, um passeio de bugue pelos pontos turísticos de Noronha, com paradas para fotos e banhos de mar, pode dar uma ideia geral da ilha. A atividade custa, em média, R$ 150.

Assistir a uma das palestras diárias do Projeto Tamar é uma sugestão para o início da noite. É gratuita.

DIA 3

Para o terceiro dia, uma opção é conhecer Noronha pelo mar, em um passeio de barco pelo Mar de Dentro, do Porto de Santo Antônio até a Ponta da Sapata. Custa cerca de R$ 120 por três horas – se for no entardecer; é aproximadamente R$ 140.

Vista do passeio de barco é incrível. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Vista do passeio de barco é incrível. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Fora do roteiro tradicional, a trilha do Morro do Piquinho pode ser feita à tarde pelos mais aventureiros. Mas tem alto grau de dificuldade e deve ser feita por quem tem experiência. O valor é, em média, R$ 100. Para incrementar, tem também o rapel, que pode ser contratado pelo telefone (81) 3619.0447.

Como a pedra fica na Praia da Conceição, é uma oportunidade para apreciar o pôr-do-sol de lá.

Os que não têm experiência também podem fazer trilhas como a Costa dos Mirantes – seguindo pela encosta da baía até o mirante Dois Irmãos e acessando a Praia do Sancho por descida entre as rochas – e a Esmeralda do Atlântico – uma caminhada em maré baixa pelas praias do Mar de Dentro. Ambas custam aproximadamente R$ 100.

DIA 4

É dia de explorar o fundo do mar com a Nave. A embarcação tem uma lente que permite aos visitantes conhecer as espécies que habitam o oceano Atlântico sem mergulhar. Antes tem uma aula sobre a vida marinha de Noronha. É R$ 150.

À tarde, você pode fazer uma caminhada para conhecer a história da ilha, que já foi ocupada por portugueses, holandeses, franceses, italianos e norte-americanos e também já funcionou como um presídio. O lugar ideal para isso é a Vila dos Remédios. Pelo receptivo Atalaia, custa R$ 65.

O passeio pode acabar na Fortaleza dos Remédios, com um pôr-do-sol incrível e vista para praias do Mar de Dentro.

Passeio tem formações rochosas e ilhotas de Noronha como plano de fundo. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Plana sub tem formações rochosas e ilhotas de Noronha como plano de fundo. Foto: Luiz Pessoa/NE10

DIA 5

O mergulho a reboque, conhecido como plana sub ou prancha sub, é uma opção de diversão para o quinto dia de viagem. Puxado em posição de mergulho pela água, você é levado pelo Mar de Dentro segurando uma prancha ligada ao barco. Já falamos sobre ele por aqui. O preço varia de R$ 100 a R$ 200.

Explorar a ilha de bicicleta é ótimo também para quem tem disposição. As bikes podem ser alugadas nos pontos de informação do Parque Nacional – na entrada da trilha do Sancho/Golfinho ou na Praia do Sueste – por R$ 25 para o dia inteiro.

DIA 6

Com sorte, você poderá conhecer a Praia da Atalaia, uma piscina natural com 300 metros de comprimento. Para respeitar a natureza, você só poderá chegar lá com um guia, se estiver aberta, já que o funcionamento varia de acordo com a maré. É proibido o uso de protetor solar, evitando, assim, interferir na vida que nasce lá.

Barcos param na Praia do Sancho para banho de mar. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Barcos param na Praia do Sancho para banho de mar. Foto: Luiz Pessoa/NE10

À tarde, você pode voltar à Praia do Sancho, eleita duas vezes a mais bonita do mundo, e já visitada no ilhatour. Agora, com calma, é hora de curtir a água cristalina. Com sorte, a cachoeira estará lá, escondida entre a vegetação.

Outra opção é o batismo, um mergulho com cilindro para iniciantes conhecerem o fundo do mar de Noronha. O preço é, em média, R$ 440. É quase unanimidade que vale a pena!

DIA 7

Depois de ver as praias e passear na Nave, é hora de mergulhar para conhecer a diversidade da vida marinha de Noronha. A Praia do Sueste tem tartarugas e peixes, que podem nadar ao lado dos visitantes. Não esqueça o snorkel! Você pode chegar lá no ônibus que passa por toda a BR-363 de meia em meia hora. Ainda sobra tempo para voltar aos pontos que mais gostou.

Não importa o dia da semana, à noite sempre tem o que fazer em Noronha. Para quem gosta de forró, o point nas segundas, quartas e sextas-feiras é o Bar do Cachorro. O Ginga Bar, reconhecido pelos petiscos servidos, pode ser o destino na noite de terça-feira. Quinta e sábado tem, no Muzenza, o reggae – que não toca só esse estilo musical, mas outros, como o pop/rock. A festa do domingo é o “samba depois da missa”, no mesmo local. Todos os dias, você ainda pode aproveitar a reconhecida gastronomia de Noronha. Telefones e endereços de todos os passeios estão na aba de serviços.

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Xica da Silva é coreana… pelo menos em Noronha

Peixe mestiço foi criado para disputar - e vencer - festivais gastronômicos da ilha. Foto: Luiz Pessoa/NE10Peixe mestiço foi criado para disputar - e vencer - festivais gastronômicos da ilha. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Xica da Silva: nome mais brasileiro é impossível para um restaurante. Mas a dona, Hae Shin, é coreana, o cardápio vem da Tailândia e a comida, bem… recebeu influências do mundo inteiro. Os frutos do mar são o ponto forte da casa, aberta em Fernando de Noronha há quase uma década para ser o xodó de Hae.

Restaurante tem ambiente aconchegante e decoração com influências de várias partes do mundo. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Restaurante tem ambiente aconchegante e decoração com influências de várias partes do mundo. Foto: Luiz Pessoa/NE10

O peixe mestiço é uma das principais escolhas, seja por brasileiros ou estrangeiros. É um pescado da ilha, geralmente dourado ou anchova, com molho pesto de manjericão, acompanhado de queijo mussarela e requeijão gratinado e purê de jerimum.

O prato é uma criação do chef Tiago Silva para representar o restaurante em festivais gastronômicos da ilha. “O primeiro teste foi com purê de batata doce e creme de alecrim. Essa receita é a terceira tentativa, usando jerimum e manjericão”, diz.

Criadora do cardápio inicial, Hae dá pitacos na cozinha e ajuda Tiago a aperfeiçoar as receitas. A coreana era comerciante na movimentada Rua 25 de Março, em São Paulo, quando encontrou a oportunidade de viver em Noronha, ilha que havia conhecido como turista em 1997 e, desde então, visitava pelo menos três vezes por ano.

A chance apareceu quando a dona do espaço onde hoje o Xica da Silva funciona não conseguiu capital para concluir a reforma. E a inspiração para chamá-lo assim, além da novela homônima, vem do nome dela: Edilene Francisca da Silva.

Camarão empanado no coco é um dos mais pedidos no restaurante. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Camarão empanado no coco é um dos mais pedidos no restaurante. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Dois anos depois, em 2008, Hae engravidou e precisou de ajuda nos três meses em que ficou fora para cuidar do filho. Foi quando o recifense Tiago, então com 21 anos, chegou a Noronha após deixar a Força Aérea. Primeiro atuou lavando louça, depois foi aprendendo a trabalhar na cozinha – e gostando – e atualmente recebe uma participação nos lucros do restaurante. “Ele não sabia fritar um ovo quando chegou aqui”, brinca Hae.

Que tal mil folhas de tapioca para a sobremesa? Foto: Luiz Pessoa/NE10

Que tal mil folhas de tapioca para a sobremesa? Foto: Luiz Pessoa/NE10

Os dois criaram – e modificaram – também o camarão no coco, outro hit da casa. Os acompanhamentos são arroz de castanha e purê de batata gratinada.

Para a entrada, o camarão também é uma boa opção. Empanado com gergelim, vem com molho agridoce. Mas o casquinho de siri é outra opção.

A escolha da sobremesa depende do gosto de cada um. Com pegada regional, há o doce mil folhas com goiabada, coco e queijo coalho. Os que não dispensam o chocolate se deliciam com a surpresa mestiça, uma base de petit gateau com mousse de leite e ganache.

Veja galeria de fotos dos pratos clássicos da casa:

MAIS NEGÓCIOS – Hae e o chef também são responsáveis por outro restaurante, com proposta diferenciada, o Ginga, aberto há dois anos. A casa tem música ao vivo nas terças e quartas-feiras, além de exibir jogos de futebol e lutas de UFC. O cardápio é mais voltado aos petiscos, como um bar.

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Caminhada histórica e trilhas são passeios para os idosos em Noronha

Passeio de catamarã é uma das sugestões. Foto: Breno Lucio/DivulgaçãoPasseio de catamarã é uma das sugestões. Foto: Breno Lucio/Divulgação

Aos 90 anos, a aposentada Anita Costa realizou, este ano, o sonho de conhecer Fernando de Noronha. Escolhendo a ilha para o passeio, a mineira comprovou o que o trade turístico tem observado há pelo menos três anos: cada vez mais idosos têm visitado Noronha. Aventura e ecoturismo também têm vez na terceira idade.

Anita tirou a clássica foto de sereia no Museu do Tubarão. Foto: Ana Maria/Cortesia

Anita tirou a clássica foto de sereia no Museu do Tubarão. Foto: Ana Maria da Silva/Cortesia

A aposentada esteve no arquipélago com a filha, a médica paulista Ana Maria da Silva, 58. As duas viveram no Nordeste na década de 1980, quando Ana Maria estudou na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e, nesse período, viajaram do Maranhão a Sergipe pegando carona em caminhões. Mas, por questões financeiras, ainda ficou nos planos a visita a Noronha. “Prometi a ela que daria essa viagem quando tivesse condições. Hoje realizamos nosso sonho”, comemora a filha. O aniversário da aposentada é no dia 27 de junho e o passeio foi um presente antecipado.

Ativa e sorridente, Anita estava subindo a ladeira ao lado da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios quando encontrou a reportagem do NE10 e já quis falar. “Se tiver coragem, a pessoa faz tudo o que quiser”, diz. Praia da Conceição, Museu do Tubarão, passeio de barco e mirantes com vista para a Praia do Sancho e a Baía dos Golfinhos foram alguns dos passeios.

PASSEIOS – De acordo com uma pesquisa feita pela Secretaria de Turismo de Pernambuco em 2014, quem tem de 61 a 65 anos representa 2,51% dos turistas e, acima dos 65 anos, 1,93%. Os empresários calculam que o aumento desde 2012 foi de pelo menos 10%.

De olho nesse público, que geralmente já chega a Noronha com pacotes fechados e em grupo, os receptivos têm aperfeiçoado os serviços. A Atalaia tem guias focados no atendimento de idosos e um veículo adaptado.

Instalação de trilhas suspensas no Parque Nacional é um dos motivos por que houve o crescimento no número de idosos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Instalação de trilhas suspensas no Parque Nacional é um dos motivos por que houve o crescimento no número de idosos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Uma das atividades mais indicadas é a caminhada histórica, que percorre os principais pontos da Vila dos Remédios e termina nas praias com acesso mais simples na ilha: Cachorro, Meio e Conceição.

Anita e a filha estavam na Vila dos Remédios quando se encontraram com a equipe do NE10. Foto: Amanda Miranda/NE10

Anita e a filha estavam na Vila dos Remédios quando se encontraram com a equipe do NE10. Foto: Amanda Miranda/NE10

“O mais legal é que no Memorial Noronhense as pessoas veem as fotos do que é dito nessa caminhada”, afirma a presidente da Associação de Condutores e Divulgadores de Informações Turísticas de Fernando de Noronha (Acitur), Sílvia de Morais Nobre, carioca que vive na ilha há 30 anos.

Alguns grupos ainda descobrem lendas de Noronha ao chegar à Fortaleza dos Remédios. “Tem a lenda da Alamoa, que é uma figura loira alemã que vivia lá na época do presídio. Em dias de lua cheia portões eram abertos e alguns sentinelas que ficavam nas guaritas dos Remédios se rendiam à beleza escultural daquela mulher. Mas, quando tentavam chegar perto, acabavam caindo da fortaleza”, conta Sílvia.

A assessora da diretoria da Atalaia Caroline Sousa sugere ainda as trilhas da Costa dos Mirantes, que incluem os pontos de onde é possível ver a Praia do Sancho, eleita duas vezes a mais bonita do mundo. “É um local com facilidade de acesso e para contemplação”, afirma.

Anita e a filha visitaram o mirante com vista para a Baía dos Porcos, no Parque Nacional. Foto: Ana Maria da Silva/Cortesia

Anita e a filha visitaram o mirante com vista para a Baía dos Porcos, no Parque Nacional. Foto: Ana Maria da Silva/Cortesia

Os idosos podem ainda fazer o Ilhatour e o passeio de barco. Se for pela Atalaia, a atividade é feita em um catamarã, que não balança muito. Uma parada é na Praia do Sancho, onde os turistas podem fazer mergulho livre. Sílvia de Morais Nobre afirma ter se surpreendido com a disposição e a facilidade de muitos grupos para usar o snorkel.

A presidente da Acitur alerta os turistas para alguns cuidados, como informar aos guias se têm bom condicionamento físico. “Eu não posso dizer seu limite. Mas o público da terceira idade é muito responsável. Quando explicamos o roteiro, já sabem se têm condições”, explica. Outras dicas é levar tênis confortáveis, repelente e muita água, além de lanterna para sair à noite.

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Gostosinho do munguzá: quando o grito é a alma do negócio

Gostosinho chama atenção pelo grito e pelos objetos no carrinho. Foto: Luiz Pessoa/NE10Gostosinho chama atenção pelo grito e pelos objetos no carrinho. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Todo mundo quer um munguzá que limpa a pele, queima 500 calorias e mantém a forma. Nada disso é comprovado cientificamente, mas são promessas fundamentais para o vendedor da receita, conhecido em Fernando de Noronha como Gostosinho, conquistar tantos clientes em diversos pontos da ilha. E não para por aí: “Minha salada de frutas tem 21 frutas, 20 bananas e uma laranja”, brinca, mostrando que a propaganda é mesmo a alma do negócio.

Ele já foi José Carlos de Barros e tem 41 anos. Mas o nome ficou exatos 20 anos atrás, quando chegou à ilha saindo do Recife para trabalhar como faxineiro em uma pousada. “Ganhava um salário e me ofereceram dois aqui. Aceitei”, conta. José Carlos é de Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, e trabalhou lá, quase escravizado nos canaviais, dos 8 aos 21 anos.

Hoje em dia, a rotina de Gostosinho é intensa, mas prazerosa. Acorda cedo e às 6h já está com a esposa, Cinthia Osório, 29, fazendo o munguzá. A comida é feita até as 13h30. Ele sai na moto meia hora depois para vender e volta às 20h para casa, na Vila do Trinta, reencontrando a mulher, que está grávida de um menino que ganhará o nome do pai.

Os dois se conheceram há 10 anos, na pousada onde trabalhavam e já têm uma filha de dois anos. Como quase todo morador de Noronha, que tem mais de uma fonte de renda, Gostosinho começou a sair com um carro de mão para vender o munguzá feito por ela. “Com uma semana comprei meu próprio carrinho. Com um ano, minha motinha. Hoje sou Micro Empreendedor Individual”, diz, orgulhoso.

Cinco anos atrás, ele ganhou o título de residente de Fernando de Noronha, a ilha onde encontrou tranquilidade. Com o lucro do munguzá, comprou uma casa e um carro na capital, mas frisa que só quer voltar para o continente quando se aposentar. “E só porque não vou conseguir carregar a barraca quando estiver mais velho”, diz.

PROPAGANDA – Mas nem sempre as estratégias de venda fizeram tanto sucesso. “Saía gritando ‘munguzá!!!’ pelo meio da rua, no gogó, mas ninguém comprava. Só resolvi o problema quando comecei a gritar ‘gostosinho’ e fazer cena. Dizia: ‘Calma, pessoal, vamos organizar a fila’, mesmo sem ninguém. Assim juntava gente”, revela.

Para chamar atenção, até o veículo usado nas vendas foi reformado. A moto branca ganhou um cavalo de brinquedo no banco de trás, que faz companhia aos outros bichos que ficam colados no capacete de gostosinho, como tubarão, aranhas, tartaruga e golfinho. No bagageiro, onde os produtos ficam expostos, ficam as fotos com famosos. “Suzana Vieira esteve aqui e comeu tapioca de coco, ainda pediu que eu levasse seis na pousada onde ela estava. Luciano Huck e Angélica comeram munguzá”, conta. Gostosinho aparece no clipe da música ‘Alto Reverso’ da banda O Rappa.

Para encontrá-lo é só seguir a voz no megafone. Duas dicas: ele costuma estar no aeroporto à tarde, nos horários de chegada e saída de voos, ou no por do sol do Forte do Boldró, onde os passeios turísticos costumam terminar. E aí é só desembolsar R$ 5 para testar as funções embelezadoras do munguzá ou descobrir as 21 frutas da salada ou ainda testar a empada de frango, o café e a tapioca só com queijo ou de coco e queijo. Quem garante é “o gostosinho, a delícia móvel”, como diz um dos seus bordões.

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Que bacalhau que nada! Em Noronha, o bolinho é de tubarão

Vale deixar o preconceito de lado e provar o bolinho de tubarão. Foto: Luiz Pessoa/NE10Vale deixar o preconceito de lado e provar o bolinho de tubarão. Foto: Luiz Pessoa/NE10

O lugar onde são reveladas curiosidades sobre dezenas de espécies de tubarão do mundo é o mesmo onde é possível experimentar o gosto deles – literalmente. Colocados entre os animais mais temidos do fundo do mar, em Fernando de Noronha eles perdem o estigma, convivem com os seres humanos e se tornam iguaria no Museu do Tubarão, na forma dos bolinhos de tubalhau, o “bacalhau” da ilha.

Crosta é feita com flocos de milho. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Crosta é feita com flocos de milho. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Servida também em outros restaurantes de Noronha, a receita começou a ser vendida no museu há pelo menos uma década, a pedido dos turistas. “Os nativos já consumiam o tubarão salgado, que chamavam de tubalhau. Essa era uma forma de conservá-lo por causa da dificuldade de ter energia elétrica. Decidimos organizar a técnica e vender para os turistas como souvenir”, conta a engenheira de pesca Concita Veras.

Concita chegou a Noronha há 25 anos com o marido, o também engenheiro de pesca Leonardo Veras, para fazer o trabalho de conclusão da graduação. Os dois montaram a empresa Noronha Pesca Oceânica, a NPO. Sete anos depois, foi aberto o museu, que expõe em painéis, fotos e peças como arcadas dentárias informações sobre esses bichos. “Queremos desmistificar essa ideia de que o tubarão é um animal terrível”, afirma.

Alvo de críticas por causa do consumo do tubarão, Concita ressalta que o que há, na verdade, é uma confusão com a pesca predatória. “É importante deixar claro que ninguém defende isso. Somos os mais interessados em preservar”, aponta. Segundo a administradora do museu, desde 1997 os animais não são retirados do mar da ilha. Atualmente, vêm da pesca artesanal na costa nordestina e são amostras de diversas espécies.

Tubarão é formado no chocolate. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Tubarão é formado no chocolate. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Para fazer os bolinhos, é preciso ter 600g de tubalhau desfiado, um quilo de batatas, uma cebola grande picada, dois ramos de salsinha pixada e óleo para fritar. O rendimento é de aproximadamente 40 unidades.

Moqueca é feita com leite de coco natural. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Moqueca é feita com leite de coco natural. Foto: Luiz Pessoa/NE10

O modo de preparo é simples e era descrito desde as primeiras embalagens do tubalhau, antes mesmo de virar bolinho. Primeiro cozinhe as batatas e amasse como se fosse fazer um purê. Depois junte a cebola e a salsinha. Então, você já pode fazer os bolinhos e fritar. O gosto é como o do bacalhau, mas, se você não se opõe ao consumo do animal, vale a pena experimentar.

O cardápio do restaurante do Museu do Tubarão, no entanto, vai muito além do animal que dá nome à casa. Um dos destaques é o arrumadinho de peixe, prato que segue a proposta do lugar: oferecer comida caseira, sem tanta sofisticação. É feito com feijão verde, farofa, arroz e vinagrete, além da barracuda, um peixe da ilha, coberto com flocos de milho. “Queríamos usar um prato da cozinha pernambucana com versão noronhense”, explica Concita.

A moqueca do chef Diogo Barbosa, sem azeite de dendê e com leite de coco natural, também encanta muitos paladares. O peixe usado é dourado ou cavala.

Para a sobremesa, a escolha pode ser o brownie com sorvete. Pedindo o doce, os adultos ganham um prato feito com cuidados daqueles elaborados para o público infantil: um tubarão vem desenhado no chocolate. As crianças, inclusive, são os clientes mais frequentes no restaurante, provavelmente pela possibilidade de entrar no misterioso ambiente desses animais.

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Plana sub mostra a casa dos noronhenses submersos

Passeio tem formações rochosas e ilhotas de Noronha como plano de fundo. Foto: Luiz Pessoa/NE10Passeio tem formações rochosas e ilhotas de Noronha como plano de fundo. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Saindo da Baía de Santo Antônio, os tripulantes, já ansiosos, recebem as instruções para o passeio com toques de aventura: no mar azul de Fernando de Noronha, ficarão na água segurando uma prancha ligada ao barco por um cabo, sendo levados a 8 km/h. Usando um snorkel e mergulhando, cada um pode ter as próprias impressões sobre a vida marinha tão própria da ilha.

Não entendeu? Veja o vídeo para se inspirar:

Plana Sub – O mergulho a reboque em Fernando de Noronha

São vários os nomes desse passeio que, na verdade, nada mais é do que um mergulho a reboque no cenário paradisíaco de Noronha: aquasub, pranchasub… Todos eles surgiram da união do esporte com o turismo. Enquanto alguns dizem que já é praticado há mais uma década no arquipélago, outros atribuem a sua criação ao engenheiro de pesca Leonardo Veras, que desenvolveu um modelo de prancha e o patenteou com o nome plana sub há cerca de oito anos.

Antes de cair ao mar, visitantes recebem orientações sobre a prancha. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Antes de cair ao mar, visitantes recebem orientações sobre a prancha. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Mas o que importa para nós, turistas, é que, hoje em dia, é possível aproveitá-lo, com segurança, de quatro formas diferentes: nas embarcações Eduarda II, Toda Nua e Alquimista II, além das embarcações do Receptivo Atalaia Turismo, que levou a equipe do NE10 de lancha.

A embarcação deixou o porto por volta das 14h, com os tripulantes Douglas e Carlinhos dando as primeiras orientações ao grupo. Usando o lado positivo da prancha para baixo, é possível chegar a oito metros de profundidade. Se a intenção é essa, o lado negativo está ali para não descer tanto – além disso, um colete salva-vidas pode ser usado por quem não sabe nadar.

Os passeios são divididos por grupos: segurando as pranchas, seis turistas na ida e seis na volta. O casal formado pelo administrador Osvaldo Casarim, 62 anos, e a aposentada Deodete Casarim, 61, ambos do interior de São Paulo, era só entusiasmo. “Não conhecia nenhum lugar no Brasil assim”, disse ele. “É lindíssimo”, completou ela.

Peixe assado também é servido no passeio. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Peixe assado também é servido no passeio. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Depois de todos mergulharem, podem relaxar na lancha e compartilhar as experiências. O passeio é o mesmo para todos, mas, acreditem, cada um tem uma impressão e percebe detalhes e cores diferentes do mar.

Para quem esperava só a atividade, vem a parte especial. O passeio inclui uma volta por praias como Americano, Cacimba do Padre e Sancho, enxergando-as de fora, e passando pela pedra do Rugido do Leão, uma formação rochosa na qual o encontro entre a caverna e o mar proporciona um barulho semelhante ao do animal.

Às vezes também é possível registrar a atividade e ver e bichos marinhos. Antes do por do sol, atobás e fragatas no céu aguardam uma bobeira de peixes, entre sardinhas, atuns e outras espécies. Faz parte da cadeia alimentar.

Depois da atividade, turistas podem admirar a vista. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Depois da atividade, turistas podem admirar a vista. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Maravilhados com a cena, alguns visitantes sequer percebem, mas Douglas já está colocando peixe e carne na churrasqueira instalada na parte traseira da lancha.

Quando a comida fica pronta, a embarcação já está de volta à Baía de Santo Antônio. Mas ainda não é hora de atracar, e, sim, o início de outro espetáculo. O por do sol começa no Mar de Dentro, mostrando que Noronha é uma ilha que pode sempre se superar.

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Zé Maria: alta gastronomia e fartura no mesmo prato

Paella é um dos pratos mais concorridos. Foto: Luiz Pessoa/NE10Paella é um dos pratos mais concorridos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Paella, arroz de jaca, salmão, peixe afrodisíaco, ostra ao vinho branco, tartar de atum, camarão com maracujá e coco, camarão aos quatro queijos, purê de jerimum, farofa de banana, picanha suína, cioba, ceviche de frutos do mar. Satisfeito ou quer mais?

Zé Maria reúne os visitantes ao redor da mesa para apresentar os pratos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Zé Maria reúne os visitantes ao redor da mesa para apresentar os pratos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Todos esses pratos e outros 35 fazem parte do Festival Gastronômico da Pousada Zé Maria, realizado há 19 anos, quase sempre com a presença de celebridades e com um animado karaokê. E a dica é esperar para mais tantas dezenas de sobremesas, incluindo brownie, tortas, mousses, cheesecakes, pudins. Continue com água na boca…

O movimento grande na pousada toda quarta-feira e sábado já começa às 20h. Uma hora depois, a mesa no centro, forrada com folhas, recebe os pratos. À esquerda, uma grande panela de paella de frutos do mar feita com purê de macaxeira, um dos destaques da casa. No outro extremo, pratos da culinária japonesa com peixe fresco da ilha. Reza a lenda que são pescados pelo próprio Zé Maria Sultanum – mas é só história de pescador.

Tartar de atum é um dos pratos da parte da mesa dedicada à culinária japonesa. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Tartar de atum é um dos pratos da parte da mesa dedicada à culinária japonesa. Foto: Luiz Pessoa/NE10

O dono da pousada, aliás, é um espetáculo à parte na noite. De longos cabelos brancos e jeito alegre, é ele quem reúne os clientes ao redor da mesa para apresentar os pratos. Um por um. “Quanto mais vocês comem, mais feliz a gente fica”, afirma, prometendo uma noite para cada um em bangalôs da pousada caso falte comida, o que garante nunca ter acontecido. Assim começa o jantar, realizado sempre em homenagem às mulheres. “Sem elas, não existiríamos”, diz ao público – afinal não são só clientes.

Zé Maria foi convidado a viver em Fernando de Noronha há 28 anos para administrar um supermercado na ilha, no início do desenvolvimento turístico e período em que o arquipélago passou a ser território pernambucano. Lembra que naquele tempo a gastronomia ainda não tinha a diversidade que se mostra hoje. Como gostava de cozinhar, decidiu inovar. Em quase duas décadas, a ideia cresceu e a alta demanda exige agora seis responsáveis pela cozinha. “O chef sou eu, mas todo mundo é chef”, afirma.

Noites de festival têm dezenas de visitantes. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Noites de festival têm dezenas de visitantes. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Herdeiro do amor do pai por Noronha, Tuca Sultanum fica muitas vezes com a incumbência de apresentar as sobremesas. Para isso, conta com uma das cozinheiras, Dulce “doce”. Torta prestígio, pudim de laranja, cheesecake de damasco e de morango, torta de tiramisu, mousse de abacaxi, torta de doce de leite…

Mas a fama que corre pela ilha – verdadeira, vale salientar – é sobre o brownie especial da casa, um dos pontos mais visitados da mesa. “Eu digo que foi criação minha, mas não foi”, brinca Zé Maria.

Colocamos o brownie só para você imaginar o sabor. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Colocamos o brownie só para você imaginar o sabor. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Antes de se servir, no entanto, Tuca apresenta o casal bacana da noite, eleito pelos funcionários. Os escolhidos da noite em que o NE10 esteve na pousada foram os paulistas Vinícius Reis, 32 anos, e Bruna Costa, 30, atendidos pelo garçom Rodrigão. “Acho que ganhamos por causa da lua de mel”, palpita a advogada. “Mas também somos bacanas. Só que bacana mesmo é o Zé Maria”, acrescenta o publicitário. Os recém-casados escolheram o festival para finalizar a viagem a Noronha, que era um sonho para os dois.

Pudim de laranja é outra sobremesa do festival. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Pudim de laranja é outra sobremesa do festival. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Com Zé Maria cantando “Como é grande o meu amor por você”, de Roberto Carlos, começa o The Voice, o karaokê. Seguiu com “Evidências”, um clássico da brincadeira. “Todo mundo interage, gente que nunca se viu senta junto e se conhece. Já tivemos até três casamentos por causa disso”, conta.

Nessa noite de festival, sentados na mesa do dono da pousada, que fica no centro do restaurante, estavam a atriz Giulia Gam e o filho Theo, que arriscou cantar sucessos da banda O Rappa com o músico da casa, Buiu. Acostumado a ter celebridades entre os hóspedes e como companhia nas noites de festival, sendo Bruno Gagliasso e Paulo Vilhena provavelmente os mais frequentes, Zé Maria diz: “Famosos são todos, porque todo mundo é feliz. Trabalhamos com o que gostamos.”

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Serviços

Taxas e Ingressos

Trilha de madeira ecológica faz parte do Parque Nacional. Foto: Luiz Pessoa/NE10Trilha de madeira ecológica faz parte do Parque Nacional. Foto: Luiz Pessoa/NE10

As belezas naturais de Fernando de Noronha são unanimidade. Porém, para mantê-las, é preciso conscientização e investimento. Cada turista tem papel fundamental nisso, seja em atitudes como não jogar lixo nas praias ou ao pagar a Taxa de Proteção Ambiental (TPA) e o ingresso para o Parque Nacional Marinho, valores que são convertidos em melhorias na infraestrutura do arquipélago.

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Ao desembarcar em Noronha, há atendimento para quem já pagou a TPA pela internet (a melhor opção para quem não quer enfrentar fila), para os que ainda deverão fazer o pagamento e para moradores e trabalhadores, entre outras pessoas isentas. Nos guichês, é entregue um documento que deverá ser guardado pelo visitante até a volta, quando será apresentado novamente para o check-out. No entanto, não é necessário levar esse papel aos passeios.

A taxa dá livre acesso a toda a Área de Proteção Ambiental, incluindo as praias da Cacimba do Padre, do Bode, do Americano, do Boldró, da Conceição, do Meio, do Cachorro, da Biboca, Baía de Santo Antônio (do Porto) e Buraco da Raquel. Além dessas áreas muito procuradas pelos turistas, também está inclusa a circulação na BR-363, no aeroporto e nas áreas históricas, como a Vila dos Remédios.

O ingresso para o Parque Nacional não é obrigatório e deve ser pago por quem quer chegar a praias como a do Sancho, eleita duas vezes a mais bonita do mundo. Além dela, há áreas como a famosa Ilha Dois Irmãos, os mirante da Baía dos Golfinhos e da Ponta das Caracas, as praias do Leão e do Atalaia, o Morro do Francês e trilhas como a da Ponta da Sapata. Boa parte do acesso a esses pontos é feito por caminhos especiais, construídos com madeira sintética, não agredindo o meio ambiente.

Para colaborar com a conservação, algumas áreas do parque merecem atenção redobrada. Não é permitido caminhar sobre os arrecifes na Praia do Leão e na Praia do Atalaia, onde a visita é feita com horários pré-estabelecidos, de acordo com a maré. Não é possível descer dos mirantes da Ponta das Caracas e dos Golfinhos.

Ao fazer o pagamento, o visitante imprime um voucher, que é trocado por um documento em três pontos de Noronha (veja onde no infográfico acima). Esse comprovante deve ser levado sempre para entrar nas áreas do parque.

A visitação é permitida diariamente, das 8h às 18h, com exceção do Mirante dos Golfinhos, que abre das 5h às 18h. As praias do Americano, do Bode, da Quixabinha e da Cacimba do Padre podem ser desbravadas das 6h às 18h de dezembro a junho. É proibido acampar ou pernoitar nas praias do parque nacional.

Desde 2013, a empresa responsável pela administração do Parque Nacional é a A Econoronha, com fiscalização feita pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O objetivo da concessão é buscar a sustentabilidade e o manejo correto do ecoturismo. Por isso, os visitantes não podem matar, capturar ou alimentar os animais e a orientação é de não deixar lixo e conservar conchas, corais e vegetais onde estiverem.

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