Filho de Cachorrão, Cachorrinho é! Conheça essas figuras de Noronha

Cachorrão e Cachorrinho afirmam que o Dog Móvel é inclusivo. Foto: Luiz Pessoa/NE10Cachorrão e Cachorrinho afirmam que o Dog Móvel é inclusivo. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Au, au, au! Estranho começar um texto assim? Não se for sobre a vida de Manoel Cachorrão, guia turístico de Fernando de Noronha conhecido devido ao seu estilo um tanto peculiar:  de moicano vermelho e coleira no pescoço, características adotadas há 23 anos. Isso além de falar, desde então, o “cachorrês”, em que o “oi” é “au”, interjeição que significa outros cumprimentos também. “Eu falo três idiomas: brasileiro, mímica e latindo”.

Recifense, Manoel chegou ao arquipélago pela primeira vez em 1987 como funcionário do Ministério da Agricultura. Um ano depois se fixou em Noronha. Mas atuar na área de recursos humanos do escritório em meio ao paraíso o cansou. Ele queria aproveitar. “Trabalhava com pessoas que se lamentavam da vida. Aqui não, todo mundo vem feliz da vida. Participamos de lua de mel, aniversário, casamento, é um trabalho como se fosse uma diversão”, diz.

Ao deixar o emprego, passou a viver em uma ruína na Praia do Cachorro. Por isso, ganhou o apelido “Mané do Cachorro”. Não gostava e criou o próprio codinome, usado por todos até hoje. “Tenho 55 anos. De ilha, 27. De cachorro, 23″, conta. E Manoel tornou-se oficialmente Cachorrão há oito anos, quando incluiu o nome nos documentos.

A ruína na Praia do Cachorro virou lar. E o canil, como o próprio chama a família, é formado por ele, Dona Loba, e dois filhos: Cachorrinho, de 32 anos, e outro de 26 anos que às vezes é chamado de Xolinho – embora a contragosto.

O filho mais velho, cujo nome de batismo é Jefferson Galdino, seguiu os passos do pai, tornando-se guia turístico, além de ser professor de capoeira e de surf e instrutor de mergulho. “Meu dia é paz, amor e saúde. Trabalho fazendo o que eu gosto e com simplicidade. Noronha é um dos poucos lugares do mundo onde você consegue definir que menos com menos dá mais, e ao quadrado. Não preciso de muito, só da minha sunga, minha nadadeira, minha máscara, estar tranquilo,  alimentado e cercado de boas pessoas”, afirma.

Mas nem sempre foi assim. “Na escola, a professora fazia a chamada como Cachorrinho. Eu detestava”, revela. Jefferson mudou de opinião ao perceber a importância do personagem criado pelo pai, inicialmente só para chamar atenção, para o turismo local. “Para mim e para muita gente, ele criou o passeio mais feito hoje em dia, o Ilha Tour”, defende.

Assim como o pai gosta de olhar o mar da janela de casa, é na água que está o lugar preferido de Cachorrinho em Noronha. “Passa tranquilidade, paz, é de onde tiro meu sustento e me dá alegria. Talvez tenha a ver com o meu signo, de Peixes”, afirma.

Pai e filho também têm em comum o veículo, o terceiro Dog Móvel da vida dos dois. Na verdade, tem suspensão de carro e formato de bugue e é mais resistente que os outros. Cachorrão enfatiza que, além disso, é mais inclusivo, pois, por ficar na altura das calçadas, permite a idosos e pessoas com mobilidade reduzida subir de forma mais fácil. “Tenho a responsabilidade de trabalhar com a matéria-prima mais bonita do Brasil: vender Fernando de Noronha e mostrar essas belezas”, conta, orgulhoso.

No momento da entrevista, Cachorrão estava trabalhando; havia deixado turistas na Praia do Leão, seu lugar favorito em Noronha, e foi “verificar se estava tudo tranquilo no canil”. Depois de mais de 20 anos como “cachorro guia”, ele agora quer também abrir uma pousada no terreno em frente à Praça Flamboyant que pertence a Cachorrinho. “Enquanto o dinheiro não vem, vamos plantando milho para comer no São João”, diz. Au!

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