Paraíso para surfistas, mergulhadores e praticantes de vários esportes, Fernando de Noronha também está aí para quebrar preconceitos e provar que pessoas com mobilidade reduzida, cadeirantes, cegos, surdos e portadores de deficiência podem – e devem – se aventurar, inclusive nesses passeios. Para recebê-los cada vez melhor, o arquipélago vem se adaptando, com projetos como o Praia sem Barreiras.
Michel e Yoko foram os primeiros cadeirantes a usar o serviço em Noronha. Foto: Divulgação
Através do programa, implantado em 2013, são disponibilizadas diariamente na Praia do Sueste, área do Parque Nacional Marinho, duas cadeiras de rodas anfíbias. A praia, conhecida pela presença constante de tartarugas, recebe todos os dias uma esteira de acesso ao mar e o banho é assistido por três monitores. E pronto, todo mundo já pode aproveitar, com segurança, a água de Fernando de Noronha, cristalina e na temperatura ideal.
O Parque Nacional tem outras áreas acessíveis, como a trilha que leva ao Mirante dos Golfinhos. Por lá também há profissionais para acompanhar os turistas que tenham essa necessidade.
É pedido apenas que os visitantes procurem um Posto de Informação e Controle (PIC), no Sueste ou Golfinhos-Sancho, para informar os passeios que desejam fazer. Assim, os monitores podem ficar aguardando nos locais onde serão feitas as atividades.
Ônibus percorre toda a BR. Foto: Luiz Pessoa/NE10
Para chegar a essas áreas, uma opção é ir de ônibus. Os veículos, que têm elevador na porta traseira, fazem todo o percurso da BR-363, percorrendo de um lado a outro da ilha, ou seja, do Porto ao Sueste. A passagem custa R$ 3 e o serviço funciona das 7h às 23h, todos os dias.
“A inclusão é uma emoção tão grande. Não é só receber, é acompanhar.”
Silvana Rondelli – pousadeira
HOSPEDAGEM – Ao ouvir que Noronha não era destino de portadores de deficiência por não oferecer condições, Sérgio Reis da Silva, dono da pousada Estrela do Mar, começou a fazer a sua parte. Há cerca de quatro anos, adaptou o quarto de número três. “Participei de um curso e comecei a implantar o que via lá aqui na pousada”, diz.
O dormitório, com uma cama de casal e uma de solteiro, tem uma rampa móvel e barras de apoio no banheiro. Ainda é disponibilizada uma cadeira específica para o banho.
Pousada Estrela do Mar disponibiliza cadeira de banho. Foto: Luiz Pessoa/NE10
Recifense que escolheu Fernando de Noronha como lar há 26 anos, Sérgio lembra que antes de projetos de inclusão, os turistas com necessidades especiais contavam com a hospitalidade dos moradores locais. “Pegávamos os deficientes nos braços quando não tinha isso tudo, só não podiam deixar de fazer os passeios”, conta.
Uma rampa móvel é colocada no quarto da Estrela do Mar para receber cadeirantes. Foto: Luiz Pessoa/NE10
Entretanto, ressalta que agora a acessibilidade está realmente se aplicando, com autonomia a todos. Para consolidar ainda mais essa meta, o dono da Estrela do Mar sugere que cadeiras de rodas elétricas sejam colocadas nas áreas do Parque Nacional para aluguel, como é feito com as bicicletas, que têm diária de R$ 25.
A Beco de Noronha também faz parte da lista de pousadas que se adaptaram aos diversos públicos. Trazendo o conceito utilizado desde a abertura do negócio, há 12 anos, de receber bem os visitantes, a paulista Silvana Rondelli resolveu, há três anos, transformar os quartos Beco Ocre, Rosa e Pistache, o que corresponde à metade do estabelecimento.
A pousada tem rampas fixas na entrada, além de uma móvel no corredor que leva aos quartos adaptados. Lá, o banheiro tem barras de apoio.
Pousada Beco de Noronha tem três banheiros com barras de apoio. Foto: Luiz Pessoa/NE10
A partir do momento em que foram chegando os turistas com necessidades especiais, questionou o que poderia melhorar e procurou consultoria. “Fomos despertando ideias de como receber essas pessoas, não só os cadeirantes, mas também surdos e cegos, por exemplo. Foi mostrando outro leque”, diz Silvana. “A inclusão é uma emoção tão grande. Não é só receber, é acompanhar.”