Exemplos de boas calçadas
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O Recife precisa evoluir bastante para melhorar sua situação no quesito calçadas. Essa opinião é compartilhada por especialistas, como o consultor Francisco Cunha, membro do site "Observatório do Recife". Segundo ele, cerca de 80% dessas vias na cidade encontram-se em estado "abominável". Dentro do debate sobre a melhoria dessas vias, exemplos de cidades da Europa são dados como modelos a serem seguidos para que a capital pernambucana resolva o seu problema. Mas nem é preciso ir tão longe para encontrar exemplos de planejamento que deram certo.
Na América do Sul mesmo, as cidades colombianas de Bogotá e Medelín são usadas como modelos a serem seguidos pelas metrópoles latinas. Porém não foi do dia para a noite que as transformações urbanas foram feitas. Não só a calçada, mas toda a cidade foi "transformada" a partir de um planejamento de reorganização urbana com resultados para médio e longo prazo, iniciado em 1996.
Desta época para cá, os governos que se alternaram nessas cidades empenharam esforços na reestruturação urbana, adotando um modelo que prioriza o pedestre e o transporte público.
A jovem colombiana Angie Bautista já viveu em Bogotá durante o processo de transformação da cidade. Apesar disso, a estudante percebeu com mais clareza os benefícios trazidos pela reorganização da cidade no início deste ano, quando veio morar no Recife para fazer um intercâmbio na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). "Quando eu cheguei no Brasil, eu percebi muito mais do que antes como as calçadas de Bogotá são boas", disse Angie.
O urbanista pernambucano Luiz Vieira acredita que Recife tem uma problemática parecida com a Bogotá do passado: uma política urbana voltada para os carros.
"O urbanismo dá prioridade ao carro e nunca para a calçada e, como a responsabilidade é do proprietário do imóvel, eles não dão muita importância para manutenção", disse Luiz Vieira, afirmando acreditar que a saída para a cidade mudar sua realidade deve estar baseada em uma política de priorização do pedestre e conscientização dos donos de imóveis, que legalmente têm a obrigação de cuidar das calçadas.
Perguntado se o Recife possui exemplos de boas calçados, Francisco Cunha diz considerar que apenas o Calçadão da orla de Boa Viagem, na Zona Sul, e do Mercado de Casa Amarela, na Zona Norte, podem ser consideradas boas vias para os pedestres, mas ainda assim com ressalvas: "Mas a outra calçada, do outro lado da orla, é um desastre (...) 80% das calçadas do Recife são abomináveis", disse o especialista que em 2012 lançou um livro sobre o tema das calçadas no Recife.
Outro ponto importante a ser tratado no debate sobre as calçadas no Recife é a inclusão de localidades periféricas nesse planejamento. Apesar de todos os elogios internacionais, Bogotá recebe críticas de moradores que acusam as autoridades de excluir comunidades mais pobres nas transformações urbanísticas.
A fotógrafa colombiana Julia Jaramillo Anzellini, 23 anos, mora em Bogotá e aponta alguns problemas da cidade: "É verdade que as calçadas aqui são amplas. Mas não se pode generalizar. Quando se vai a bairros mais pobres, a fiscalização diminui e, com isto, as infrações por parte dos motoristas aparecem, como o desrespeito à faixa de pedestres".
SÃO PAULO - No Brasil, a cidade de São Paulo tem uma vasta legislação para regulamentar e padronizar seus passeios públicos. Na capital paulista, assim como no Recife, a manutenção dessas vias é de responsabilidade dos proprietários dos imóveis, mas a legislação estabelece critérios técnicos sobre a forma dos passeios públicos, como a obrigatoriedade de terem pelo menos 1,20 metro exclusivamente para a livre circulação dos pedestres. Quem descumprir pode pagar multas calculadas de acordo com o tamanho da calçada.
Apesar de todas essas revoluções na reorganização urbana, há quem faça críticas pontuais ao caso de São Paulo. "São Paulo é um avanço em relação ao Recife, só que a lei ainda não é colocada em prática. Mas essa prefeitura está priorizando (o pedestre). No bairro da Liberdade, começou a tirar o estacionamento e pintar na rua uma faixa verde que é uma ampliação da calçada, o que é uma coisa revolucionária", disse o consultor Francisco Cunha.
CURITIBA - Com indicadores mostrando que apenas um terço de seus 4.500 Km de vias possui calçamento, a Prefeitura de Curitiba lançou em 2014 o Plano Estratégico de Calçadas (Plan Cal). O planejamento tinha como uma das metas implantar 115 Km de calçadas e revitalizar outros 150. As vias na capital do Paraná têm padronização técnica e sistema de iluminação estratégico.
No entanto a realidade da crise econômica no Brasil vem impedindo o alcance desta meta e nem metade disso foi atingida.