Por Rostand Tiago/ Especial para o NE10*

São quase quatro horas da manhã e minha respiração ainda está levemente acelerada. Acabei de chegar da pré-estreia de Star Wars: O Despertar da Força, minha primeira vez em uma sessão no cinema de um filme dessa saga que aprendi a admirar e, com o tempo em que fui adquirindo uma bagagem cultural maior, acabei entendendo o quão revolucionária foi para a história do cinema e da cultura pop, algo que eu já sentia intuitivamente, mas ainda não sabia explicar.

Nasci em 1997, vinte anos após o lançamento do primeiro filme da série, em 1977, e só tive meu primeiro contato aos dez anos de idade. Desde então, Star Wars teve uma recorrência maior em minha vida, seja como entretenimento ao rever e rever todos os filmes (E aqui entra também até a irregular segunda trilogia), seja como uma fonte de reflexão, ao usar a filosofia trazida pelos filmes em momentos da minha vida.

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Mas algo mudou com esse lançamento. Desde que me aventurei nas histórias dessa galáxia tão, tão distante, sempre senti que minha geração carecia de uma narrativa tão simples, mas tão influente ao mesmo tempo como ela. Não que os filmes clássicos tenham perdido seu poder, costumo dizer que Star Wars é uma obra atemporal, que conseguiu vencer o crivo do crítico chamado tempo. Porém, faz muito tempo desde 1977, muitas coisas mudaram, entre elas, a linguagem cinematográfica e o próprio público. O novo Star Wars, sob a batuta de J.J Abrams, conseguiu atualizar a saga, sem deixar de perder a essência do que fez os filmes antigos terem conseguido os títulos de clássico e revolucionário.

Stormtroopers marcham no tapete vermelho. Foto: facebook.com/StarWars

Sim, Star Wars: O Despertar da Força traz muitos elementos encontrados nos filmes originais, mas os utiliza de uma forma nova e inventiva, conquistando tanto o público que possui um sentimento de nostalgia, como aqueles que tiveram um contato recente, ou, até mesmo, nenhum contato com os outros filmes. Um exemplo disso é o trabalho de design de produção da obra, assinado por Rick Carter, vencedor do Oscar, que traz novos formatos para objetos já icônicos, como o uniforme dos Stormtroopers, que passaram por uma releitura. O trabalho de Carter e sua equipe ainda é feliz ao trazer novos elementos, como a concepção do simpático dróide BB-8, que, aliada ao seu carisma, consegue construir facilmente uma empatia com o público.

Um dos aspectos técnicos que mais me impressionou foi a fotografia , que, utilizando planos abertos e com bastante profundidade de campo, garantem a imersão nesse universo fantástico e dono de uma beleza ímpar. J.J foi muito feliz ao saber quando usar efeitos gerados por computação gráfica e quando usar locações reais e efeitos práticos, dando o tom necessário de verossimilhança à narrativa, mesmo que ambientada em um lugar tão fantasioso.

Finn. Foto: divulgação

Mas falar de Star Wars é falar de personagens fortes, aqueles que aprendemos a amar, aqueles que aprendemos a odiar e aqueles que aprendemos a odiar e amar – como um tal de Darth Vader. O novo episódio consegue criar personalidades novas que se equiparam em qualidade à aquelas dos episódios clássicos. Quando essas novas pessoas se juntam a rostos antigos, o resultado é magnífico, pois atingem uma química entre si que desperta a empatia do público de forma orgânica e duradoura. Isso também é mérito do carisma dos novos atores, que utilizam da boa construção de seus personagens para mostrarem seus talentos. O Finn, interpretado por John Boyega, foi aquele que conseguiu mais a minha atenção, com um timing cômico perfeito e uma atuação de maior densidade, quando necessário.

Assim, Star Wars: O Despertar da Força conseguiu superar minhas altas expectativas e apresenta um grande potencial para conquistar um novo público para saga, além de satisfazer os velhos fãs. É excelente o trabalho de criação e atualização feito por J.J Abrams, que traz uma trama de ritmo sólido e pouquíssimos deslizes, capaz de deixar um jovem fã de 18 anos com os olhos brilhando e um sorriso bobo no rosto durante duas horas e quinze minutos de projeção. Finalmente, minha geração tem um Star Wars para chamar de meu.

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* Rostand Tiago aceitou o desafio do NE10 de escrever sobre O Despertar da Força logo após o término da sessão de pré-estreia do longa. É estudante de jornalismo, fã de Star Wars desde os 10 anos e empolgadíssimo com a chegada de novos filmes.