Muito além da mabuia… conheça outras espécies da fauna e da flora de Noronha

Noivinha é uma das aves mais conhecidas de Noronha. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

Tartarugas, mabuias, mocós, golfinhos e tubarões são alguns dos animais que habitam Fernando de Noronha e despertam a curiosidade dos turistas. Mas, além deles, há diversas outras espécies de plantas e bichos na ilha – só não há cobras de nenhuma espécie. Saiba mais sobre a fauna e a flora de lá:

FLORA

» Gameleira

Quinhentos metros. É o tamanho que a copa dessa árvore de raízes aéreas pode chegar. A altura, aproximadamente a 30 metros. O fruto, um tipo de figo, é muito doce e serve de alimento para as aves, mas só é encontrado nos meses de outubro e novembro. A planta pode ser encontrada na ilha principal e nas secundárias.

Gameleira tem copa gigante. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

Gameleira tem copa gigante. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

» Mulungu

Essa árvore extremamente frondosa que chega aos 20 metros de altura e tem caule cheio de espinhos faz parte do imaginário popular do arquipélago. Conta-se que prisioneiros que cumpriam pena em Noronha tentavam fugir em jangadas feitas com a madeira do mulungu (Erythrina velutina). O problema é que ela é mole e esponjosa, acumulando água. Reza a lenda que essas embarcações afundavam e os homens ficavam à deriva. Não se sabe se isso realmente acontecia, assim como também é incerto o poder calmante da casca, usada pelos nativos. É do mulungu as sementes amarelas, laranjas, vermelhas e pretas que podem ser vistas pelo chão em diversos pontos da ilha e bastante usadas para fazer artesanato – quanto mais clara a semente, mais escura a flor. Delas, apenas as pretas são de uma planta endêmica, ou seja, de genoma só encontrado por lá.

» Burra-leiteira

A Sapium scleratum também é endêmica e pode ser encontrada na ilha principal e nas secundárias, provavelmente depois que as sementes são levadas pelas aves. “Provavelmente porque os polinizadores, como formigas e abelhas, não têm contato com outros gêneros dessa espécie de plantas”, explica a bióloga Maria de Lourdes Alves, que atua na Administração de Fernando de Noronha. A burra-leiteira chega a 15 metros de altura e tem uma seiva que parece um leite branco, porém é altamente cáustica, podendo provocar queimaduras e, em contato com os olhos, até cegueira. A flor dessa árvore, que é descrita desde o descobrimento da ilha, é roxa e bem pequena e o fruto parece um peão verde. As propriedades medicinais da árvore nunca foram estudadas, mas algumas pessoas usavam o látex para curar verrugas.

FAUNA

Atobá é bom mergulhador. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Atobá é bom mergulhador. Foto: Luiz Pessoa/NE10

» Atobá e fragata

Quando o atobá vai até a água para buscar peixes e volta a voar, a fragata chega sorrateira e rouba o alimento. É assim, nada amistosa, a relação entre essas duas aves que vivem em Noronha. Por terem muita gordura nas penas, os atobás conseguem mergulhar até 17 metros de profundidade, enquanto a outra espécie, que pode medir até dois metros, não pode caçar o próprio alimento.

A reprodução das fragatas costuma acontecer no fim do inverno, quando as fêmeas colocam ovos no topo das árvores. “Assim, os filhotes têm até o fim do verão para aprender a usar as longas asas e a voar. Se jogam do ninho e depois, quando estão no ar, conseguem sair voando”, explica a bióloga. Os atobás colocam, também nas árvores, dois ovos durante o verão. “Os dois filhotes são alimentados por dois dias, mas depois só o mais forte permanece sendo cuidado e o que for menor é abandonado para que a mãe possa se dedicar ao que tenha mais chances de sobreviver. Parece cruel, mas é o sistema deles. Têm dois na expectativa de um crescer forte”, afirma Maria de Lourdes Alves.

» Viuvinha e noivinha

Aves muito comuns em Noronha, as viuvinhas têm penas pretas, enquanto as noivinhas, brancas. Esses pássaros se alimentam de peixes no momento de arrufo, que é quando os grandes encurralam as sardinhas, que pulam para fora do mar. Tanto as noivinhas quanto as viuvinhas fazem ninhos com algas e capim nas árvores, assim como os atobás.

Viuvinhas são pássaros pretos. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

Viuvinhas são pássaros pretos. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

» Caranguejo

De captura proibida em toda a extensão da ilha há 10 anos para preservar a espécie (Johngarthia lagostoma), matar esses caranguejos pode custar R$ 5 mil além do prejuízo ao meio ambiente. Diferentemente de outros, têm padrões de cores do amarelo claro ao roxo escuro, não têm pelos e, em vez de viverem na lama, moram nos morros. As fêmeas só deixam as tocas no período reprodutivo e vão para o mar para o acasalamento. Na água, enquanto a maré está seca, põem entre 12 e 25 mil ovas, que são inicialmente larvas grudadas nas algas até se transformarem em pequenos caranguejos, que sairão da água, onde não são capazes de respirar. “São muito predados nesse percurso. É uma travessia lenta e perigosa para eles, em que têm uma taxa de sobrevivência pequena”, afirma a bióloga. “Uma década depois da proibição da captura, ainda não conseguimos ter uma população estável.”

Levados para acabar com o excesso de ratos, tejus agora são praga. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

Levados para acabar com o excesso de ratos, tejus agora são praga. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

» Teju

Descendentes dos dinossauros, esses répteis foram introduzidos em Noronha no fim da década de 1950, levados do semiárido nordestino, em um plano que não deu certo. O objetivo era que eles comessem os ratos e os sapos, fazendo o controle natural desses animais, mas não foi pensado que os predadores e os predados têm hábitos diferentes: enquanto caçadores buscam alimento durante o dia, os outros, à noite. A captura dos tejus é proibida, mas, como eles tornaram-se uma praga em Noronha, cientistas estudam a abertura de uma temporada de caça. Eles são ótimos nadadores, podendo ir pela água até as ilhas secundárias, mas, devido à disponibilidade de alimentos, costumam viver mais próximo às áreas urbanas. A reprodução é geralmente no verão, período em que as fêmeas põem um ou dois ovos em pequenas cavernas. Como são de sangue frio, para não peder muita energia, esses bichos hibernam no período chuvoso.

* Todas as informações são da bióloga da Administração de Fernando de Noronha.

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Mergulho com cilindro é a melhor forma de conhecer o mar em Noronha

Mergulho pode ser feito também por iniciantes. Foto: Divulgação

Sete horas da manhã e os curiosos mergulhadores, experientes ou não, fazem fila para entrar na embarcação na Praia do Porto de Santo Antônio. O passeio do dia é o Batismo, uma expedição pelo fundo do mar de Noronha, em que os iniciantes podem explorar até a 15 metros de profundidade. A aventura custa em média R$ 440.

Batismo é melhor passeio para conhecer o fundo do mar

São vários os pontos de mergulho em Noronha. Imagem: Atlantis Diveris

São vários os pontos de mergulho em Noronha. Imagem: Atlantis Diveris

Barcos das três operadoras zarpam quase ao mesmo tempo, cada um para uma localidade diferente na ilha. O NE10 foi pela Águas Claras, mas também tem a Atlantis Divers e a Noronha Divers.

Logo na saída, os passageiros recebem instruções sobre o manuseio do equipamento de mergulho, a pressurização e a respiração, além de técnicas para evitar a entrada de água no óculos e dicas sobre o pulo, por exemplo. Depois disso, já para o mar.

Mergulham três pessoas por vez, cada uma acompanhada por um instrutor por meia hora conhecendo esse novo universo. É possível, lá embaixo, ver todo tipo de vida marinha, da fauna à flora. Há polvos, tartarugas, peixes, arraia e vários tipos de coral… Para preservá-los, não é permitido o toque, nem mesmo em pedras ou na areia.

O passeio dura em média quatro horas desde a partida do porto e pode ser feito por pessoas de várias idades e também por quem tem dificuldade de locomoção. A embarcação leva cerca de vinte passageiros, entre eles seis instrutores, o capitão e o fiscal. Um fotógrafo e um cinegrafista também integram a tripulação e acompanham o mergulho para oferecer, ao final, as lembranças.

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Tubarões e golfinhos são grandes animais do mar de Noronha

Por incrível que pareça, os golfinhos têm o mesmo ancestral que vacas, camelos e hipopótamos, o creodonte. Foto: Antônio Melcop/Administação de Fernando de Noronha

Dois grandes animais que habitam o fundo do mar de Fernando de Noronha fazem da ilha eleita a mais bonita do Brasil um verdadeiro parque de diversões. São os golfinhos e os tubarões, que acompanham os turistas na viagem, interagindo com eles, cada um da sua forma, e despertando a curiosidade desses visitantes.

Tubarões surgiram no mundo há mais 350 milhões de anos, antes mesmo da formação dos planetas e do Oceano Atlântico. Foto: Leonardo Veras/Acervo Pessoal

Tubarões surgiram no mundo há mais 350 milhões de anos, antes mesmo da formação dos planetas e do Oceano Atlântico. Foto: Leonardo Veras/Acervo Pessoal

Estigmatizado como um animal terrível, é no arquipélago que o tubarão mostra que as coisas não são bem assim. Em praias como a do Sueste, do Porto de Santo Antônio, da Caieiras e do Sancho, é possível interagir com eles, principalmente com os da espécie limão (negaprion brevirostris), uma das 13 encontradas na ilha – além dela, as mais frequentes são o lixa (ginglymostoma cirratum) e o do recife (carcharhinus perezi).

Pegue o snorkel, vá para o mar e não tenha medo. O engenheiro de pesca Leonardo Veras, curador do Museu do Tubarão, explica que os seres humanos não fazem parte da cadeia alimentar dos oceanos, logo, não são alimento para esses animais. “A pergunta não é por que os tubarões de Noronha atacam, e sim por que os outros fazem isso. Tubarão não é feito para comer gente. Aqui temos um ambiente equilibrado e pequena invasão humana no mar. Além disso, a água cristalina faz com que o tubarão identifique o humano e não ataque”, afirma.

Esses predadores se alimentam de peixes menores do que eles, principalmente o peixe papagaio, além de animais como polvos e lagostas. Pesquisas apontam que há tubarões que comem cerca de 2% do seu peso corporal por dia. Porém, Veras frisa que isso não vale para todas as espécies.

Tubarão nadando na Praia do Sancho. Foto: Leonardo Veras/Acervo Pessoal

Tubarão nadando na Praia do Sancho. Treze das 375 espécies do mundo podem ser encontradas em NoronhaFoto: Leonardo Veras/Acervo Pessoal

“Eles não comem o tempo todo. Como têm o metabolismo mais baixo do que o do ser humano e são animais homeotérmicos, com temperatura regulada pelo ambiente, acabam gastando menos energia”, justifica. Além disso, esses bichos passam por períodos de abstinência alimentar que podem durar um ano – embora tenham como objetivo de vida procurar alimento. “Precisam comer principalmente quando vão se preparar para a migração e para a reprodução.”

É justamente para ter os filhotes que os tubarões chegam a Noronha. No caso da espécie limão, depois de usar as piscinas naturais da ilha como berçário, ficam na costa enquanto são jovens, período em que geralmente podem ser vistos pelos banhistas. São animais de até um metro, normalmente até os 12 anos de idade.

De acordo com o engenheiro de pesca, os machos adultos dessa espécie vivem longe da ilha, enquanto as fêmeas costumam  morar em regiões mais profundas no entorno de Noronha. Os animais se aproximam da costa entre janeiro e fevereiro, quando acontece a cópula. A fecundação é interna.

As crias nascem 11 meses depois, podendo haver até 20 pequenos tubarões, medindo cerca de 30 centímetros. O canibalismo é muito comum entre esses bichos, então, assim que chegam à água, os filhotes já têm que ficar alerta. Esses animais podem viver cerca de 30 anos.

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Apesar de muitas espécies poderem, digamos, descansar – os da limão ficam parte do dia em repouso -, os tubarões nunca deixam de lado os sete apuradíssimos sentidos que os fazem ser conhecidos como máquinas: eletrorrecepção, visão, paladar, audição, olfato, tato e tato à distância. Tudo isso com o único intuito de identificar presas em potencial e mapeá-las no fundo do mar.

Tubarão descansando no Buraco da Raquel. Mesmo com o metabolismo baixo, mantém alerta. Foto: Leonardo Veras/Acervo Pessoal

Tubarão descansando no Buraco da Raquel. Mesmo com o metabolismo baixo, mantém alerta. Foto: Leonardo Veras/Acervo Pessoal

Só para dar alguns exemplos, eles podem localizar, através da escuta remota, leves vibrações a longa distância, o que lhes permite localizar peixes feridos no oceano. Assim como em outros animais aquáticos, a audição é o sentido mais aguçado de todos nesses bichos, pois o som se propaga quatro vezes melhor na água do que no ar. Os tubarões souberam tirar proveito disso ao longo da evolução com seus dois ouvidos internos dotados de sensores de direção, equilíbrio e velocidade.

Mas o sentido mais famoso é o olfato, explorado pelos filmes, é o olfato. Algumas espécies são capazes de detectar uma parte por milhão, o que equivale a uma gota de extrato de peixe dissolvida em uma piscina olímpica.

Para conhecer mais detalhes sobre os tubarões em Noronha, vale visitar o Museu do Tubarão, aberto diariamente das 8h às 19h30, e assistir à palestra de Leonardo Veras no Projeto Tamar nas sextas-feiras, às 20h. Os dois passeios são gratuitos.

GOLFINHOS – Quem não viaja para a ilha interessado no passeio de barco com golfinhos em volta que atire a primeira pedra. O que poucos sabem é que, enquanto parecem fazer um show, esses animais, na verdade, estão “de guarda” e querem proteger o grupo principal, em que estão as fêmeas e os filhotes. Os mesmos bichos que acompanham as embarcações afugentam e enfrentam tubarões e organizam os deslocamentos.

As informações são do projeto Golfinho Rotador, que atua em Noronha para a preservação da espécie através da educação ambiental. Os turistas que quiserem ver esses animais além do passeio, podem ir cedo ao Mirante dos Golfinhos, que fica na área do Parque Nacional Marinho e pode ser acessado a partir do Ponto de Informação e Controle Sancho/Golfinho. Lá, você pode pegar um dos binóculos emprestados pelo projeto a partir das 7h, além de tirar dúvidas sobre os hábitos dos bichos, e se encantar.

Golfinhos têm respiração pulmonar através de um orifício que se abre quando ele sobe para fazer as trocas gasosas e se fecha quando vai submergir. Foto: Antônio Melcop/Administração de Fernando de Noronha

Golfinhos têm respiração pulmonar através de um orifício que se abre quando ele sobe para fazer as trocas gasosas e se fecha quando vai submergir. Foto: Antônio Melcop/Administração de Fernando de Noronha

É comum assistir aos filhotes mamando. As pequenas crias, de cerca de 75 centímetros, se posicionam de lado e esfregam o focinho nas fendas mamárias da mãe, de onde sai o leite rico em gordura.

A relação entre a cria e a mãe, inclusive, é muito forte entre os rotadores, de nome científico stenella longirostris. Não há figura paterna, já que a poligamia é comum e as atividades sexuais são realizadas sem fins reprodutivos, com objetivo de alcançar prazer sexual ou afetivo. Quando há fecundação, a gestação dura 10,5 meses.

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Os golfinhos chegam a Noronha pela manhã, em movimento em direção à baía que ganhou o nome deles antes do nascer do sol, após passarem a noite se alimentando longe da costa. À tarde, voltam a sair para as zonas de alimentação. Eles comem lulas, camarões e peixes, principalmente o voador, o garapau e a agulhinha. A cada dia, se alimentam de cerca de 5% do seu peso.

Devido ao seu sistema de comunicação, baseado nos sons – silvos com tons puros e assobios altos – e na movimentação aérea – relacionada ao deslocamento, ao estado de alerta ou à coesão do grupo -, os golfinhos são considerados animais muito inteligentes.

Enquanto os seres humanos têm o sexto maior cérebro entre os mamíferos, proporcionalmente, os golfinhos rotadores têm o terceiro maior, com um quilo e meio. O córtex associativo, a parte especializada no pensamento abstrato e conceitual, também é maior que a dos homens. Essas são as características desses animais há mais de 30 milhões de anos.

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Seja biólogo por uma noite em Noronha

Estrutura do Tamar em Noronha é museu aberto. Na foto, o coordenador do projeto na ilha, Rafael Robles. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Quem, quando criança, nunca brincou de salvar os animais? Em Fernando de Noronha, é possível tornar desejo em realidade, pelo menos por uma noite. É o propósito do monitoramento da desova de tartarugas feito pelo Projeto Tamar na Praia do Leão de dezembro a junho, o período de reprodução desses animais. A atividade é gratuita.

Tartarugas verdes usam a ilha para se reproduzir. Foto: Projeto Tamar

Tartarugas verdes usam a ilha para se reproduzir. Foto: Projeto Tamar/Divulgação

Sem luz para não atrapalhar as mamães tartarugas na missão de colocar os ovos, a chegada à praia é às 20h. A partir de então, o monitoramento é feito de hora em hora. Os animais têm o casco medido e são marcados, assim como os ninhos, que recebem uma numeração. Com esse dado, é possível fazer o acompanhamento até o nascimento dos filhotes e a corrida deles até o mar. O público pode participar ainda da contagem desses pequenos bichos.

O passeio é feito todas as segundas e quintas-feiras. Para participar, os turistas devem ir ao Centro de Visitantes do projeto, que fica na Alameda do Boldró e funciona diariamente das 9h às 22h. Os telefones para contato são (81) 3619.1174, 3619.1577 e 3619.1269. São quatro vagas por noite.

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O coordenador da base do Tamar em Fernando de Noronha, Rafael Robles, explica que as atividades de pesquisa do projeto foram adaptadas ao ecoturismo, com o objetivo de incentivar a ideia de “conhecer para preservar”. “Quanto mais perto dos animais, mais sensibilizadas as pessoas ficam”, defende.

O projeto foi criado há 35 anos – e está em Noronha há 30, atualmente funcionando com 25 funcionários, sendo cinco técnicos que vão a campo. Tudo começou no fim da década de 1970, quando um grupo de cinco estudantes gaúchos de oceanografia esteve no Atol das Rocas, um ilha oceânica no Rio Grande do Norte, para colher material para o museu da universidade. Lá, ouviram o barulho de pescadores matando tartarugas que estavam se reproduzindo. “Isso contrariava o que haviam aprendido na faculdade, que o Brasil não tinha desova de tartarugas”, conta o coordenador na ilha.

Projeto Tamar está em Noronha há 360 anos. Foto: Projeto Tamar

Projeto Tamar está em Noronha há 360 anos. Foto: Divulgação

Os estudantes, então, convenceram os pescadores locais a não agir contra os animais e fizeram o registro oficial da desova para denunciar o fato. “O País fazia parte de acordos de proteção dos oceanos, o que contribuiu para pressionar o governo a fazer um projeto de proteção das tartarugas, que são animais migratórios”, diz. Então o grupo foi chamado para percorrer a costa e fazer um levantamento de 1980 a 1982. Era o início do Tamar.

Inicialmente, foram três bases: Pirambu Pirambu (SE), onde vive a espécie oliva; Praia do Forte (BA), com registros da cabeçuda e da pente; e Regência (ES), local da tartaruga de couro. Faltava apenas proteger a tartaruga verde, encontrada em Noronha. “Foi um negócio de estudantes que salvou as tartarugas”, afirma Robles. Trinta e cinco anos depois, são 25 bases.

Segundo dados do próprio projeto, eram 29 ninhos de tartarugas na ilha na década de 1980, número que aumentou para 159 na década de 2000. “É um trabalho a longo prazo. Teoricamente a primeira tartaruga que (os fundadores) colocaram ao mar está se reproduzindo agora. Para as tartarugas, 30 anos não é nada”, justifica o coordenador. O Tamar é financiado por patrocínio e pelas vendas de produtos produzidos por comunidades costeiras nas lojas instaladas em pontos turísticos, como a que existe em Noronha.

Criado há 19 anos, o ciclo de palestras ambientais do projeto leva pesquisadores para o Centro de Visitantes toda noite, a partir das 20h, após a exibição de filmes, para falar sobre temas que fazem parte da ecologia na ilha. Veja a programação semanal:

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DURANTE O DIA – Há ainda a captura intencional de tartarugas todas as segundas e quintas-feiras. Mergulhando por apneia, os biólogos pegam os animais para medir o casco, coletar o sangue, pesá-los e verificar o estado de saúde deles. “Esse trabalho é feito com o objetivo de conhecer a rota migratória, a média de tartarugas, a taxa de crescimento delas”, explica Rafael Robles. O local e o horário da atividade dependem da maré, mas é possível se informar no Centro de Visitantes. Nos últimos 30 anos, foram estudadas mais de 4 mil tartarugas verdes diferentes, além de 2,5 mil da espécie pente.

Os turistas que gostam de acordar cedo têm ainda, durante o dia, palestra do projeto Golfinho Rotador sobre esses animais, no Mirante dos Golfinhos, às 7h ou com a chegada de grupos grandes. Na atividade, descobrem detalhes sobre a vida dos bichos, que costumam chegar a Noronha pela manhã para se reproduzir e cuidar dos filhotes, enquanto à noite vão para alto mar para se alimentar. A dica é chegar por volta das 6h30. O projeto também empresta binóculos para a observação dos animais e distribui folders sobre o comportamento deles.

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Plana sub mostra a casa dos noronhenses submersos

Passeio tem formações rochosas e ilhotas de Noronha como plano de fundo. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Saindo da Baía de Santo Antônio, os tripulantes, já ansiosos, recebem as instruções para o passeio com toques de aventura: no mar azul de Fernando de Noronha, ficarão na água segurando uma prancha ligada ao barco por um cabo, sendo levados a 8 km/h. Usando um snorkel e mergulhando, cada um pode ter as próprias impressões sobre a vida marinha tão própria da ilha.

Não entendeu? Veja o vídeo para se inspirar:

Plana Sub – O mergulho a reboque em Fernando de Noronha

São vários os nomes desse passeio que, na verdade, nada mais é do que um mergulho a reboque no cenário paradisíaco de Noronha: aquasub, pranchasub… Todos eles surgiram da união do esporte com o turismo. Enquanto alguns dizem que já é praticado há mais uma década no arquipélago, outros atribuem a sua criação ao engenheiro de pesca Leonardo Veras, que desenvolveu um modelo de prancha e o patenteou com o nome plana sub há cerca de oito anos.

Antes de cair ao mar, visitantes recebem orientações sobre a prancha. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Antes de cair ao mar, visitantes recebem orientações sobre a prancha. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Mas o que importa para nós, turistas, é que, hoje em dia, é possível aproveitá-lo, com segurança, de quatro formas diferentes: nas embarcações Eduarda II, Toda Nua e Alquimista II, além das embarcações do Receptivo Atalaia Turismo, que levou a equipe do NE10 de lancha.

A embarcação deixou o porto por volta das 14h, com os tripulantes Douglas e Carlinhos dando as primeiras orientações ao grupo. Usando o lado positivo da prancha para baixo, é possível chegar a oito metros de profundidade. Se a intenção é essa, o lado negativo está ali para não descer tanto – além disso, um colete salva-vidas pode ser usado por quem não sabe nadar.

Os passeios são divididos por grupos: segurando as pranchas, seis turistas na ida e seis na volta. O casal formado pelo administrador Osvaldo Casarim, 62 anos, e a aposentada Deodete Casarim, 61, ambos do interior de São Paulo, era só entusiasmo. “Não conhecia nenhum lugar no Brasil assim”, disse ele. “É lindíssimo”, completou ela.

Peixe assado também é servido no passeio. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Peixe assado também é servido no passeio. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Depois de todos mergulharem, podem relaxar na lancha e compartilhar as experiências. O passeio é o mesmo para todos, mas, acreditem, cada um tem uma impressão e percebe detalhes e cores diferentes do mar.

Para quem esperava só a atividade, vem a parte especial. O passeio inclui uma volta por praias como Americano, Cacimba do Padre e Sancho, enxergando-as de fora, e passando pela pedra do Rugido do Leão, uma formação rochosa na qual o encontro entre a caverna e o mar proporciona um barulho semelhante ao do animal.

Às vezes também é possível registrar a atividade e ver e bichos marinhos. Antes do por do sol, atobás e fragatas no céu aguardam uma bobeira de peixes, entre sardinhas, atuns e outras espécies. Faz parte da cadeia alimentar.

Depois da atividade, turistas podem admirar a vista. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Depois da atividade, turistas podem admirar a vista. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Maravilhados com a cena, alguns visitantes sequer percebem, mas Douglas já está colocando peixe e carne na churrasqueira instalada na parte traseira da lancha.

Quando a comida fica pronta, a embarcação já está de volta à Baía de Santo Antônio. Mas ainda não é hora de atracar, e, sim, o início de outro espetáculo. O por do sol começa no Mar de Dentro, mostrando que Noronha é uma ilha que pode sempre se superar.

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Os antepassados delas já haviam escolhido Noronha como lar

Tartarugas podem passar de um metro. Foto: Miguel Igreja/Administração de Fernando de Noronha

Com milhões de anos de existência, as tartarugas mostraram que são muito mais do que pontos de beleza nos oceanos. Importantes para a cadeia alimentar e para o ecossistema, encontram em Fernando de Noronha ponto de alimentação e desova. Duas espécies habitam o arquipélago em momentos da vida desses animais migratórios: a tartaruga verde e a tartaruga de pente.

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Os filhotes das tartarugas verdes nascem após 50 dias de incubação na areia e levam de três a quatro dias na escalada até o mar. No caminho, entretanto, muitas vezes se deparam com algumas ameaças: as redes de pesca e, principalmente, a luz artificial, que desorienta os pequenos animais, criados com a habilidade de seguir a direção da luz natural até o oceano.

Embora sejam direcionados em direção ao mar desde o início da vida, as tartarugas são animais pulmonares, mas não têm a mesma necessidade que nós, humanos, de respirar. Quando são filhotes, ficam mais na superfície para a troca gasosa. Já na fase adulta, aos 30 anos, conseguem ficar por muito tempo no fundo do mar, enquanto o metabolismo funciona lentamente, a não ser que estejam na fase reprodutiva, em que as fêmeas precisam respirar mais vezes. Tanto a verde quanto a pente vivem aproximadamente 100 anos.

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Embarque nesta Nave e ajude a mapear a vida aquática de Noronha

Visitantes observam fundo do mar pela lente do barco. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Naufrágios, tubarões, tartarugas e peixes coloridos não estão só ao alcance dos olhos dos mergulhadores em Fernando de Noronha. Única do gênero em funcionamento no País, a expedição Nave permite ao turista uma viagem ao fundo do oceano Atlântico, explorando detalhes da vida marinha através da lente do barco.

A primeira etapa do passeio é para as primeiras instruções sobre o que poderá ser encontrado na costa noronhense, na concentração às 8h, no Museu do Tubarão.

Leonardo Veras explica quais são os animais mais comuns em Noronha. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Didaticamente, o engenheiro de pesca Leonardo Veras, curador do museu, usa o espaço lúdico para explicar desde as técnicas para não enjoar – não fixar o olhar apenas na lente da embarcação e tentar “enganar o cérebro” trocando de paisagens – até as mudanças da cor do mar – mais verde nas proximidades do Porto, por causa da concentração de algas microscópicas, e azulado ao se afastar, devido à ação da corrente equatorial e à menor presença de nutrientes.

Todos avisados de que não há certeza sobre o que poderá ser visto, a expedição pode sair. “Os animais têm comportamento exótico”, adverte. A única certeza é sobre as estatísticas dos passeios anteriores, elaborada de acordo com a observação dos próprios visitantes: tartarugas apareceram em 88,6% dos passeios; arraias em 77,3%; golfinhos em 63,4%; e tubarões em 37,3%. E, como o mar é mesmo cheio de surpresas, expectativas frustradas: nada de golfinhos na nossa expedição.

A Nave é um barco russo com motor sueco que, há quatro anos, transporta 15 tripulantes, contando com Leonardo Veras, o piloto Dadinha e o auxiliar Bacana.

Ao deixar o porto, cerca de uma hora depois das instruções, um naufrágio é a primeira atração. “Esse é de máquinas a vapor, o mesmo do Titanic”, explica Veras. Em seguida, já foi possível ver cardumes de peixes tesourinha e cirurgião. A nove metros de profundidade, surgem tartarugas, que, devido à ilusão de ótica provocada pela lente, parecem pequenas, mas podem chegar a um metro de carapaça.

Os corais de fogo conseguem chamar ainda mais atenção dos turistas. Constituídos por dois organismos, vegetal e animal, ganham coloração amarelada, levando rochas a parecerem pepitas de ouro. Essas formações são compostas pelos peixes donzelas de rocas, amarelos e lilás, e por algas que mantêm atividades 24 horas – durante o dia produzindo açúcares na fotossíntese e à noite estendendo redes microscópicas para a alimentação. Apesar da beleza, os corais não devem ser tocados, pois produzem substâncias urticantes.

Foto: Luiz Pessoa/NE10

Daniel e Carin conseguiram observar todos os animais no passeio. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Um cardume de sardinhas, outro de sargentinhos e ainda um peixe conhecido como tubarão do Paraguai também passaram pelo barco. De verdade, um tubarão lixa, apelidado de Chico, que costuma saudar os visitantes, cumpriu o ritual próximo à Ilha do Meio.

Sandra afirma que a Nave é um passeio inclusivo. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Sandra afirma que a Nave é um passeio inclusivo. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Elogiado por Leonardo Veras por ter sido o que mais percebeu a presença de animais distintos ao longo do passeio, o médico de Niterói (RJ) Daniel Thiengo, 34 anos, justifica que aprendeu com a esposa, a bióloga Carin Caputo, 33. Apesar de se planejarem desde que se conheceram, há 15 anos, para ir a Noronha, esta foi a primeira vez. E já se apaixonaram pelo lugar. “Esse foi o passeio mais legal”, disse ela.

Para a psicóloga carioca Sandra Cerqueira, 37, um dos pontos positivos do Nave é a riqueza dos conhecimentos repassados pelos tripulantes, além da possibilidade de incluir pessoas que não podem mergulhar. “Minha mãe, por exemplo, é obesa e teria dificuldade de fazer outras atividades. Aqui ela teria contato com tudo sem problemas”, afirmou. Sandra foi de férias a Noronha e disse ser “a primeira vez de muitas”.

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Praia da Cacimba do Padre

Foto: Antônio Melcop/Administração de Fernando de Noronha

Recanto dos surfistas que frequentam Fernando de Noronha, a Cacimba do Padre é muito mais do que as ondas que podem chegar a cinco metros no verão. É lá que está o Morro Dois Irmãos, cartão postal de Noronha.

São 900 metros de praia, a maior extensão da ilha, com areia clara e fofa e vegetação nativa que avança sobre a praia. As águas verdes e transparentes são repletas de vida marinha.

Como boa representante do Mar de Dentro, onde o sol se põe, a Cacimba é escolhida para apreciar a vista. Poucas vezes por ano isso acontece no meio do Dois Irmãos. Sorte de quem tem a chance de ver.

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