Caminhada histórica e trilhas são passeios para os idosos em Noronha

Passeio de catamarã é uma das sugestões. Foto: Breno Lucio/DivulgaçãoPasseio de catamarã é uma das sugestões. Foto: Breno Lucio/Divulgação

Aos 90 anos, a aposentada Anita Costa realizou, este ano, o sonho de conhecer Fernando de Noronha. Escolhendo a ilha para o passeio, a mineira comprovou o que o trade turístico tem observado há pelo menos três anos: cada vez mais idosos têm visitado Noronha. Aventura e ecoturismo também têm vez na terceira idade.

Anita tirou a clássica foto de sereia no Museu do Tubarão. Foto: Ana Maria/Cortesia

Anita tirou a clássica foto de sereia no Museu do Tubarão. Foto: Ana Maria da Silva/Cortesia

A aposentada esteve no arquipélago com a filha, a médica paulista Ana Maria da Silva, 58. As duas viveram no Nordeste na década de 1980, quando Ana Maria estudou na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e, nesse período, viajaram do Maranhão a Sergipe pegando carona em caminhões. Mas, por questões financeiras, ainda ficou nos planos a visita a Noronha. “Prometi a ela que daria essa viagem quando tivesse condições. Hoje realizamos nosso sonho”, comemora a filha. O aniversário da aposentada é no dia 27 de junho e o passeio foi um presente antecipado.

Ativa e sorridente, Anita estava subindo a ladeira ao lado da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios quando encontrou a reportagem do NE10 e já quis falar. “Se tiver coragem, a pessoa faz tudo o que quiser”, diz. Praia da Conceição, Museu do Tubarão, passeio de barco e mirantes com vista para a Praia do Sancho e a Baía dos Golfinhos foram alguns dos passeios.

PASSEIOS – De acordo com uma pesquisa feita pela Secretaria de Turismo de Pernambuco em 2014, quem tem de 61 a 65 anos representa 2,51% dos turistas e, acima dos 65 anos, 1,93%. Os empresários calculam que o aumento desde 2012 foi de pelo menos 10%.

De olho nesse público, que geralmente já chega a Noronha com pacotes fechados e em grupo, os receptivos têm aperfeiçoado os serviços. A Atalaia tem guias focados no atendimento de idosos e um veículo adaptado.

Instalação de trilhas suspensas no Parque Nacional é um dos motivos por que houve o crescimento no número de idosos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Instalação de trilhas suspensas no Parque Nacional é um dos motivos por que houve o crescimento no número de idosos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Uma das atividades mais indicadas é a caminhada histórica, que percorre os principais pontos da Vila dos Remédios e termina nas praias com acesso mais simples na ilha: Cachorro, Meio e Conceição.

Anita e a filha estavam na Vila dos Remédios quando se encontraram com a equipe do NE10. Foto: Amanda Miranda/NE10

Anita e a filha estavam na Vila dos Remédios quando se encontraram com a equipe do NE10. Foto: Amanda Miranda/NE10

“O mais legal é que no Memorial Noronhense as pessoas veem as fotos do que é dito nessa caminhada”, afirma a presidente da Associação de Condutores e Divulgadores de Informações Turísticas de Fernando de Noronha (Acitur), Sílvia de Morais Nobre, carioca que vive na ilha há 30 anos.

Alguns grupos ainda descobrem lendas de Noronha ao chegar à Fortaleza dos Remédios. “Tem a lenda da Alamoa, que é uma figura loira alemã que vivia lá na época do presídio. Em dias de lua cheia portões eram abertos e alguns sentinelas que ficavam nas guaritas dos Remédios se rendiam à beleza escultural daquela mulher. Mas, quando tentavam chegar perto, acabavam caindo da fortaleza”, conta Sílvia.

A assessora da diretoria da Atalaia Caroline Sousa sugere ainda as trilhas da Costa dos Mirantes, que incluem os pontos de onde é possível ver a Praia do Sancho, eleita duas vezes a mais bonita do mundo. “É um local com facilidade de acesso e para contemplação”, afirma.

Anita e a filha visitaram o mirante com vista para a Baía dos Porcos, no Parque Nacional. Foto: Ana Maria da Silva/Cortesia

Anita e a filha visitaram o mirante com vista para a Baía dos Porcos, no Parque Nacional. Foto: Ana Maria da Silva/Cortesia

Os idosos podem ainda fazer o Ilhatour e o passeio de barco. Se for pela Atalaia, a atividade é feita em um catamarã, que não balança muito. Uma parada é na Praia do Sancho, onde os turistas podem fazer mergulho livre. Sílvia de Morais Nobre afirma ter se surpreendido com a disposição e a facilidade de muitos grupos para usar o snorkel.

A presidente da Acitur alerta os turistas para alguns cuidados, como informar aos guias se têm bom condicionamento físico. “Eu não posso dizer seu limite. Mas o público da terceira idade é muito responsável. Quando explicamos o roteiro, já sabem se têm condições”, explica. Outras dicas é levar tênis confortáveis, repelente e muita água, além de lanterna para sair à noite.

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A história de Noronha contada a partir das suas igrejas

Igreja Matriz de Noronha: testemunha da história da ilha. Foto: Luiz Pessoa/NE10Igreja Matriz de Noronha: testemunha da história da ilha. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Do meio da Vila dos Remédios, a localidade mais antiga de Fernando de Noronha, a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios já assistiu a passagem de franceses, holandeses, italianos, norte-americanos, portugueses. Datada de 1772, é uma das construções cuja história se confunde com a do arquipélago. Além dela, a ilha tem a Capela de São Pedro e a Igreja de Nossa Senhora das Graças.

A construção começou em 1731, 200 anos após a descoberta da ilha, mas só foi concluída em 1770 para a inauguração dois anos depois. Os presos que ficavam na ilha, usada como presídio, fizeram a primeira restauração, em 1833.

Igreja foi erguida há mais de dois séculos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Igreja foi erguida há mais de dois séculos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Ao contrário da igreja, a Vila dos Remédios, principal núcleo urbano, passou por diversas mudanças no período. As primeiras construções datam de um século antes do templo, período em que os holandeses ocuparam a área – de 1624 a 1654.

Além da matriz, foram edificados, primeiro por holandeses e depois por portugueses, prédios públicos, alojamentos, oficinas para presidiários, escola e hospital. Estrategicamente, não era vista do mar.

Hoje em dia, a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios tem missas nos domingos, às 20h, e nas quartas-feiras, às 11h, além das celebrações de Adoração ao Santíssimo, nas quintas-feiras, às 20h, e do Terço dos Homens, nos sábados, às 20h. A missa em homenagem à padroeira é no dia 29 de agosto.

O padre responsável pelas celebrações há dois anos é Flávio José Ribeiro de Araújo, 31 anos. Reservado, mas atencioso com os moradores, o padre leva uma vida de trabalhos religiosos principalmente voltadas aos jovens ilhéus. O único banho de mar é nas tardes de domingo, na Praia do Cachorro, próximo à paróquia. Tudo para aproveitar o dia de menor movimento na paróquia e na praia.

Capela de São Pedro fica em local privilegiado, com vista do mar de dentro e do mar de fora. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Capela de São Pedro fica em local privilegiado, com vista do mar de dentro e do mar de fora. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Ao chegar a Noronha, o padre Flávio encontrou um evento que costumava celebrar no continente: a barqueata. Nos quatro primeiros anos de ordenado, acompanhou a procissão marítima de São José do Amarante, em Itapissuma, no Grande Recife. Agora é em homenagem a São Pedro, saindo da capela que leva o nome do santo, na Ponta da Air France.

Mesmo pequena, capela de São Pedro é palco de inúmeros casamentos. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Madeira da cruz em frente à capela é ecológica. Foto: Luiz Pessoa/NE10

A celebração na ilha é no dia 29 de junho e acontece há 45 anos, por iniciativa de pescadores. “Os turistas participam bastante”, afirma o padre.

O ritual começa às 9h, na parte externa da capela, que é pequena e com vista privilegiada dos dois mares da ilha, de dentro e de fora. A imagem do santo é, então, levada em procissão aos barcos que aguardam no porto. Com todos os tripulantes acomodados, é hora de seguir até a Ponta da Sapata, o outro extremo de Noronha e retornar para um grande almoço na capela. O prato: peixes do arquipélago.

A capela também é um dos principais locais escolhidos para casamentos. “É o sonho de consumo de muitas noivas”, afirma o padre. “Sigo o ritual da igreja. Na capela é mágico porque geralmente acontece fora, com o por do sol de fundo e a natureza como cenário.” Normalmente, as missas na igrejinha também são ao por do sol, às 18h, de segunda a sábado.

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