Muito além da mabuia… conheça outras espécies da fauna e da flora de Noronha

Noivinha é uma das aves mais conhecidas de Noronha. Foto: Antônio Melcop/DivulgaçãoNoivinha é uma das aves mais conhecidas de Noronha. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

Tartarugas, mabuias, mocós, golfinhos e tubarões são alguns dos animais que habitam Fernando de Noronha e despertam a curiosidade dos turistas. Mas, além deles, há diversas outras espécies de plantas e bichos na ilha – só não há cobras de nenhuma espécie. Saiba mais sobre a fauna e a flora de lá:

FLORA

» Gameleira

Quinhentos metros. É o tamanho que a copa dessa árvore de raízes aéreas pode chegar. A altura, aproximadamente a 30 metros. O fruto, um tipo de figo, é muito doce e serve de alimento para as aves, mas só é encontrado nos meses de outubro e novembro. A planta pode ser encontrada na ilha principal e nas secundárias.

Gameleira tem copa gigante. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

Gameleira tem copa gigante. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

» Mulungu

Essa árvore extremamente frondosa que chega aos 20 metros de altura e tem caule cheio de espinhos faz parte do imaginário popular do arquipélago. Conta-se que prisioneiros que cumpriam pena em Noronha tentavam fugir em jangadas feitas com a madeira do mulungu (Erythrina velutina). O problema é que ela é mole e esponjosa, acumulando água. Reza a lenda que essas embarcações afundavam e os homens ficavam à deriva. Não se sabe se isso realmente acontecia, assim como também é incerto o poder calmante da casca, usada pelos nativos. É do mulungu as sementes amarelas, laranjas, vermelhas e pretas que podem ser vistas pelo chão em diversos pontos da ilha e bastante usadas para fazer artesanato – quanto mais clara a semente, mais escura a flor. Delas, apenas as pretas são de uma planta endêmica, ou seja, de genoma só encontrado por lá.

» Burra-leiteira

A Sapium scleratum também é endêmica e pode ser encontrada na ilha principal e nas secundárias, provavelmente depois que as sementes são levadas pelas aves. “Provavelmente porque os polinizadores, como formigas e abelhas, não têm contato com outros gêneros dessa espécie de plantas”, explica a bióloga Maria de Lourdes Alves, que atua na Administração de Fernando de Noronha. A burra-leiteira chega a 15 metros de altura e tem uma seiva que parece um leite branco, porém é altamente cáustica, podendo provocar queimaduras e, em contato com os olhos, até cegueira. A flor dessa árvore, que é descrita desde o descobrimento da ilha, é roxa e bem pequena e o fruto parece um peão verde. As propriedades medicinais da árvore nunca foram estudadas, mas algumas pessoas usavam o látex para curar verrugas.

FAUNA

Atobá é bom mergulhador. Foto: Luiz Pessoa/NE10

Atobá é bom mergulhador. Foto: Luiz Pessoa/NE10

» Atobá e fragata

Quando o atobá vai até a água para buscar peixes e volta a voar, a fragata chega sorrateira e rouba o alimento. É assim, nada amistosa, a relação entre essas duas aves que vivem em Noronha. Por terem muita gordura nas penas, os atobás conseguem mergulhar até 17 metros de profundidade, enquanto a outra espécie, que pode medir até dois metros, não pode caçar o próprio alimento.

A reprodução das fragatas costuma acontecer no fim do inverno, quando as fêmeas colocam ovos no topo das árvores. “Assim, os filhotes têm até o fim do verão para aprender a usar as longas asas e a voar. Se jogam do ninho e depois, quando estão no ar, conseguem sair voando”, explica a bióloga. Os atobás colocam, também nas árvores, dois ovos durante o verão. “Os dois filhotes são alimentados por dois dias, mas depois só o mais forte permanece sendo cuidado e o que for menor é abandonado para que a mãe possa se dedicar ao que tenha mais chances de sobreviver. Parece cruel, mas é o sistema deles. Têm dois na expectativa de um crescer forte”, afirma Maria de Lourdes Alves.

» Viuvinha e noivinha

Aves muito comuns em Noronha, as viuvinhas têm penas pretas, enquanto as noivinhas, brancas. Esses pássaros se alimentam de peixes no momento de arrufo, que é quando os grandes encurralam as sardinhas, que pulam para fora do mar. Tanto as noivinhas quanto as viuvinhas fazem ninhos com algas e capim nas árvores, assim como os atobás.

Viuvinhas são pássaros pretos. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

Viuvinhas são pássaros pretos. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

» Caranguejo

De captura proibida em toda a extensão da ilha há 10 anos para preservar a espécie (Johngarthia lagostoma), matar esses caranguejos pode custar R$ 5 mil além do prejuízo ao meio ambiente. Diferentemente de outros, têm padrões de cores do amarelo claro ao roxo escuro, não têm pelos e, em vez de viverem na lama, moram nos morros. As fêmeas só deixam as tocas no período reprodutivo e vão para o mar para o acasalamento. Na água, enquanto a maré está seca, põem entre 12 e 25 mil ovas, que são inicialmente larvas grudadas nas algas até se transformarem em pequenos caranguejos, que sairão da água, onde não são capazes de respirar. “São muito predados nesse percurso. É uma travessia lenta e perigosa para eles, em que têm uma taxa de sobrevivência pequena”, afirma a bióloga. “Uma década depois da proibição da captura, ainda não conseguimos ter uma população estável.”

Levados para acabar com o excesso de ratos, tejus agora são praga. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

Levados para acabar com o excesso de ratos, tejus agora são praga. Foto: Antônio Melcop/Divulgação

» Teju

Descendentes dos dinossauros, esses répteis foram introduzidos em Noronha no fim da década de 1950, levados do semiárido nordestino, em um plano que não deu certo. O objetivo era que eles comessem os ratos e os sapos, fazendo o controle natural desses animais, mas não foi pensado que os predadores e os predados têm hábitos diferentes: enquanto caçadores buscam alimento durante o dia, os outros, à noite. A captura dos tejus é proibida, mas, como eles tornaram-se uma praga em Noronha, cientistas estudam a abertura de uma temporada de caça. Eles são ótimos nadadores, podendo ir pela água até as ilhas secundárias, mas, devido à disponibilidade de alimentos, costumam viver mais próximo às áreas urbanas. A reprodução é geralmente no verão, período em que as fêmeas põem um ou dois ovos em pequenas cavernas. Como são de sangue frio, para não peder muita energia, esses bichos hibernam no período chuvoso.

* Todas as informações são da bióloga da Administração de Fernando de Noronha.

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